O que a faculdade não ensina sobre ser Psicólogo no mundo digital

A transição da faculdade para o “mundo real” acaba com o emocional de muitos jovens psicólogos. A gente se forma com aquela empolgação de “vou finalmente trabalhar com o que eu gosto”, mas descobre que se encaixar no mercado de trabalho é bem mais difícil e demorado do que parecia. Mas por quê?

É verdade que o mercado (em especial, o de psicoterapia) é super concorrido. O Brasil é um dos países com mais psicólogos per capita do mundo, a maioria das famílias não consegue financiar uma psicoterapia semanal e as famílias que conseguem já têm seu terapeuta de confiança ou vão escolher, por indicação, um terapeuta mais experiente que você. Dói olhar para isso, mas é a verdade.

Ao mesmo tempo, também é verdade que existem psicólogos e clínicas crescendo nesse mesmo mercado selvagem e impiedoso. Apesar da crise (ou por causa da crise?), ainda se vêem psicoterapeutas triplicando sua carteira de clientes e clínicas se tornando referência em pouco tempo.

Olhando de perto, o “segredo” (que não é nenhum segredo) fica claro: os profissionais que estão crescendo apesar da concorrência são aqueles que (1) criaram seu próprio jeito de crescer e (2) usaram o ambiente digital para acelerar isso. E você não precisa ter uma super equipe de marketing ou fazer vários cursos caros para tomar essas duas atitudes.

Estudo de caso: como psicoeducar de graça pela internet e crescer fazendo isso?


A Eurekka é a startup de Psicologia e Tecnologia que nós fundamos no fim de 2016. Vou contar um pouquinho da história pra você ter mais contexto, tá? Beleza, então.

A gente tava terminando de cursar Psicologia na UFRGS e começou a pensar em jeitos de aproximar as pessoas leigas (não-psicólogos!) desse conhecimento prático da Psicologia. Mas para onde as pessoas leigas estão buscando informação? Onde está a atenção delas?

Se você não passou os últimos 10 anos recluso em um lugar remoto, você sabe a resposta: as pessoas olham pro celular. Sendo bem específico, elas estão rolando o feed do Facebook e do Instagram. E quando você se dá conta disso, você entende que, como psicólogo, você precisa estar onde as pessoas estão.

A Eurekka começou a produzir conteúdo para o Facebook e para o Instagram lá no início de 2017, em três formatos diferentes - vídeo, texto e imagem. Começar foi a parte mais travada, como sempre. As perguntas eram infinitas: “Lançar quantos vídeos por semana? De qual duração? E textos? E quantas imagens?”.

Nessa hora, a gente tinha duas opções. Fazer uma pesquisa profunda para cada uma dessas perguntas com especialistas em marketing e alcançar uma noção atualizada das melhores práticas do mercado…

Ou escolher uma estratégia e começar de uma vez.

Por ser mais econômica e demorar menos tempo, a gente escolheu a segunda opção. Decidimos fazer uma postagem por dia, variando o tipo de conteúdo. Fechamos em 2 vídeos, 2 imagens, 1 infográfico e 1 texto. Por que esses números? Nenhum motivo muito científico. Decidir alguma coisa era melhor do que ficar parado esperando “a decisão perfeita”.

A página da Eurekka tinha uns 400 seguidores na época, todos amigos dos fundadores. E nas duas primeiras semanas de conteúdo, a gente criou posts que ninguém dava muita bola. Umas curtidas, uns comentários, uns compartilhamentos, aquela coisa. A gente já tinha criado uns 10 posts fracassados, o que já qualifica um psicólogo pra desistir de gravar vídeo e virar o cara que diz “eu tentei criar conteúdo para mídias sociais e não funcionou.”

Na terceira semana, uma postagem da Eurekka explodiu pela primeira vez. Era um mini-guia sobre suicídio (inspirado em 13 Reasons Why) que a gente fez no PowerPoint chamado “13 Coisas Importantes Sobre Suicídio”. em alguns dias, ele foi compartilhado mais de 100000 vezes e aumentou a nossa base de curtidas de 400 pessoas para 18000. Aquele foi o empurrãozinho que a gente precisava.

Por sorte, viralizar uma postagem não deixou a gente inseguro demais pra ficar analisando demais as próximas. A gente aceitou que tinha bombado e continuou escrevendo e gravando mais, sem ceder ao novo medo de “não viralizar”.

O impacto: por quê vale a pena esse esforço todo?


Um ano e meio depois, enquanto eu escrevo, a gente já acumula mais de 30 milhões de visualizações nos nossos vídeos e quase 1 milhão de compartilhamentos. Nossa base de seguidores está quase chegando aos 500 mil pessoas, entre Instagram, Facebook e YouTube.

Mas os números são a parte menos empolgante. O mais empolgante é não precisar imaginar, mas ver o impacto que a psicoeducação tem nas pessoas e como a Psicologia é poderosa. Uma técnica simples de respiração que você ensina por vídeo ajuda alguém no Pará a subir no palco. Um roleplay de discussão de casal que você encena pra câmera ajuda uma menina de São Paulo a falar a verdade para o namorado.

Só a Psicologia, quando espalhada do jeito certo, tem o poder de te fazer sentir mudando uma vida do jeito mais profundo possível. Mas ela precisa ser espalhada pelas centenas de milhares de Psicólogos do Brasil, com menos medo e mais ação.

Hoje, a Eurekka tem duas sedes físicas no Rio Grande do Sul, uma em Porto Alegre e outra em Canoas. Em menos de dois anos de história, a gente já faz mais de 300 sessões mensais e atende pacientes de quase todos os estados do Brasil com Terapia Comportamental via online.

Mais de 80% dos pacientes descobriram a Eurekka pelos materiais grátis nas redes sociais. Todos os dias, a gente recebe futuros pacientes pelo site e conduz os casos para a nossa equipe de psicoterapeutas. Para atender toda a demanda, a gente criou um modelo de franquia para psicólogos que queiram entrar na Família Eurekka.

Esse mundo novo que todo mundo menciona quando te diz “você precisa se adaptar!” não quer que você seja menos psicólogo e mais marqueteiro. Pra ser sincero, esse mundo novo não quer nada. As pessoas que habitam esse mundo são as mesmas e elas querem da gente a mesma coisa: que a Psicologia as ajude a resolver problemas.

Se você consegue usar sua voz, sua imagem ou seus textos pra fazer isso, você vai ser recompensado com atenção e engajamento. Por isso, escuta a gente. Se você quer ser um psicólogo clínico desse novo mundo, leva essa frase como um mantra: “psicoeducar as pessoas na internet primeiro, ser reconhecido e procurado depois.”

Autor Henrique Souza

Henrique Souza

@henriquesouza

Henrique Souza é psicólogo, psicoterapeuta e co-fundador da Eurekka, uma startup de Psicologia e Tecnologia sediada em Porto Alegre. A Eurekka produz vídeos, textos, áudios, guias e aplicativos de psicoeducação que já alcançaram mais de 50 milhões de pessoas na internet. Criadores da primeira inteligência artificial de Psicologia do Brasil e coordenadores de uma clínica de sucesso, a Equipe Eurekka acredita profundamente no poder da inovação.

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