Terapias Expressivas - quando a Arte e a Psicologia dão-se as mãos

Com certeza você já ouviu falar em arte, arte terapia, psicodrama e outros. Mas, e “Terapias Expressivas”? Talvez esse termo ainda possa ser desconhecido para você.

E é justamente apresentar as Terapias Expressivas que é o objetivo deste artigo. Contudo, antes de chegarmos lá, precisamos relembrar e conhecer alguns conceitos básicos.

Você se lembra da sua aula de Arte? (os mais “antigos” tinham aula de “educação artística” na escola).

Aprendemos que Arte é uma derivação da palavra latina “tékne”, e que o filósofo Aristóteles se referia a palavra arte como “póiesis”, cujo significado era semelhante a tékne. A arte no sentido amplo significa o meio de fazer ou produzir alguma coisa, sabendo que os termos tékne e póiesis se traduzem em criação, fabricação ou produção de algo. Em suma, a Arte é uma representação de uma ideia

E Arte Educação, o que é? É uma educação que parte da expressão de ideias, sentimentos e emoções com aquilo que chamamos Linguagem Artística (voltaremos a esse termo mais adiante). Uma educação através da arte.

E o que são as linguagens artísticas? São os veículos de transmissão da ideia. Se dividem em quatro, a saber: Artes Visuais, Teatro, Música e Dança.

Já a História da Arte, consiste em uma ciência que estuda os movimentos artísticos, as modificações na valorização estética, as obras de arte e os artistas ao longo do tempo.

Todo esse processo de conceitos que fizemos, sobre a arte, a história da arte e linguagens artísticas nos fez pensar em imagens? Sim ou não?

Para mim, sim, porque vivemos neste mundo contemporâneo e a leitura de imagens nos faz entender um pouco sobre essa poluição de informações que temos. Em nossa vida diária estamos rodeados por imagens impostas pela mídia, vendendo produtos, comportamentos, slogans políticos etc. Como resultado de nossa incapacidade de ler essas imagens, nós aprendemos por meio delas inconscientemente.


E o que faz a leitura de imagens ser incrível e necessária? 

Veja bem, o contato com a imagem sensibiliza e educa o nosso olhar. A imagem oferece uma visão da realidade muito diferente daquela que a palavra oferece. A leitura da imagem na arte mobiliza simultaneamente a cognição e a imaginação, encaminhando um modo de conhecer que valoriza tanto a informação objetiva quanto a formação da subjetividade. Dessa maneira, além de aprendermos sobre o mundo e também sobre nós mesmos.

Unindo a Psicologia e a Arte

Então, aqui nasce a ideia de unir a Arte e a Psicologia? Talvez.

A arte comunica mesmo onde as palavras faltam, atravessam bloqueios e abre portas que insistem em ficar fechadas diante de outras técnicas, em nosso consultório e às vezes na vida.

Assim, no processo de desenvolvimento da clinica, da vida do ser humano, dos diversos tipos de sofrimento da atualidade que demandam diferentes formas de intervenção, alguns autores criaram teorias que privilegiam o uso de recursos expressivos e técnicas não verbais para as intervenções. A história nos relata o valor das mais variadas expressões artísticas nas culturas. 

Desde o período da Pré-História o homem já fazia desenhos nas cavernas, e esses desenhos tinham poder de comunicação entre eles e tinham uma magia.

Foi desta forma que os humanos tiveram para representar o mundo em que viviam. Compreender este contexto é muito importante para o entendimento das Terapias Expressivas.


O ato de criar e o produto da criação tornam-se o porta-voz da tentativa de resolução do choque entre o que se apresenta no indivíduo ocorrido da realidade objetiva e a forma como ele a compreende. O criar e o produto da criação são um ensaio para a solução do conflito. O fazer arte passa a ser um instrumento para a psicoterapia como uma das expressões do humano além do verbal. O criar e o viver se interligam e se elaboram dentro de um contexto cultural, de acordo com o autor Liomar de Andrade.

A criatividade e a expressão artística são atributos da natureza humana. Desde os tempos da pré-história, a raça humana utiliza a arte como canal de expressão de conteúdos emocionais.

Foi desta forma que os humanos tiveram para representar o mundo em que viviam. Compreender este contexto é muito importante para o entendimento das Terapias Expressivas.

Recebemos muitas informações em forma de imagens, teorizamos muito e talvez a prática vá se distanciando. Por isso saber ler imagens é uma exigência da sociedade contemporânea, ela ocupa um espaço privilegiado, pois somos constantemente bombardeados por elas, através da televisão, do computador, de revistas, de jornais, do cinema e dentre tantas outras situações.

No entanto, apesar de vivermos num contexto mundial cada vez mais visual, o público por falta de contato ou por falta de habilidades, recebem essas imagens de maneira intuitiva, sem uma percepção criteriosa e reflexiva, e assim vão se tornando meros consumidores.

Freud já nos ensinava, que o inconsciente se manifesta mais por imagens do que por palavras, e que as imagens são mais livres da censura da mente do que as palavras.

Então, a partir da realização da leitura de imagem nós nos tornamos mais conscientes de quem somos de onde estamos e, principalmente, da mentalidade existente em nós e ao nosso redor.

Ao aprender a ler imagens, tornamos nossa percepção de mundo mais elaborada e amadurecemos o nosso olhar.

Nesse sentido, as técnicas artísticas utilizadas em terapia foram sendo desenvolvidas e criteriosamente pesquisadas.

Então, as TERAPIAS EXPRESSIVAS diferem de outras formas de terapias, mesmo as que utilizam a arte como principal instrumento de trabalho, como o Psicodrama, por exemplo. O que diferencia as Terapias Expressivas é fato de não centrar somente na expressão mediada por aquilo que entendemos como arte ou expressão artística, nem em um único mediador (só a pintura/ desenho, ou apenas a música), mas sim por trabalhar com todas as formas humanas de expressão não verbal.

Vale lembrar sobre a Linguagem não verbal.

O ser humano tem necessidade de comunicar-se. É por meio desse processo que nos construímos socialmente, que produzimos conhecimentos, que convivemos. Recorremos a diferentes formas de estabelecermos esses contatos, que não se limitam ao uso da linguagem verbal.

O nosso corpo, as nossas expressões faciais e o próprio silêncio, às vezes, constroem mais sentido do que  uma fala ou um texto escrito.

E é por isso que nos valemos da chamada linguagem não verbal em nossos atos comunicativos, um tipo de linguagem que não se estabelece por meio de palavras, mas, muitas vezes, por meio de índices, ícones e símbolos, por exemplo.

Essa linguagem (a não verbal) é tão importante que mesmo que estejamos em contato com alguém que não compartilha conosco do mesmo idioma, que nada mais é do que um código, conseguimos, muitas vezes, efetivar a comunicação por meio de mímicas, da forma como postamos o nosso corpo, ou até mesmo utilizando de um sorriso. São incontáveis os modos de ocorrência da linguagem não verbal.

Terapias Expressivas, o que são é então?

A Terapia Expressiva se define pela utilização e estímulo de expressões não verbais em contexto terapêutico, com a finalidade de promover o desenvolvimento de competências humanas. Por expressão não verbal entende-se que seja tudo que não se utiliza a palavra falada, a fala estruturada, ou o diálogo consciente como uma maneira central de expressão e comunicação. 

As Terapias Expressivas privilegiam a expressão como a principal chave de acesso ao ser, ao compreender, ao relacionar-se, à comunicação, incidem atualmente em diversos níveis: no cognitivo, no corporal, no expressivo e no comportamental; agem com finalidades terapêuticas de reabilitação e de ressocialização, de ajuste emocional, de introspecção, de redução do estigma e de prevenção do desconforto. Nesse sentido, a expressividade é a chave da comunicação.

São aplicadas terapias expressivas, como uma maneira criativa de auxiliar em diversas questões emocionais: resolução de conflitos (intra e inter pessoais)

, melhoria da autoimagem, reestruturação emocional, minimização de traumas, superação de obstáculos, desenvolvimento de competências pessoais, treino de habilidades sociais, entre muitas outras situações.

Através da minha experiência em atendimentos, foi possível perceber que as terapias expressivas, quando experimentadas pelo cliente/paciente contribuem para que o indivíduo se situe no seu espaço interno e externo, levando-o a uma consciência individual e de grupo, realizando a interação social, familiar e espiritual. Assim as terapias expressivas auxiliam no desenvolvimento de competências, ao estímulo da plasticidade mental e do despertar das capacidades existentes no ser humano frequentemente adormecidas ou ainda não desenvolvidas devido ao mau estímulo do meio, da educação ou da família.

É apaixonante perceber os benefícios das terapias expressivas, de observar as vivênncias e o uso do potencial, da força criativa que levam as pessoas ao autoconhecimento, ao encontro do equilíbrio e a superação de suas dificuldades emocionais.


Criança de 11 anos com dificuldades de aprendizagens, déficit de atenção, diz que tem desejo de fazer Engenharia de Agrimensura.

E como o processo acontece através das Terapias Expressivas?

De forma didática, temos dentro das expressões não verbais os quatro principais tipos de mediadores: Lúdico, Ritualístico, Artístico e Sensorial, sua atividades expressivas e as correntes teóricas que orientam a sua utilização, e que dão corpo as terapias expressivas. Exemplo:

Tipo de mediador: Artístico

Atividade Expressiva: Expressão plástica (desenho)

Correntes: Arte terapia.

Este desenho é de uma criança aparentemente tímida, de nove anos. Ela fez o processo terapêutico, com uma demanda inicial relatada por sua mãe de dificuldades de aprendizagem. Foi possível acolher essa demanda com a utilização da Expressão Plástica, usando o desenho. E a Arte Terapia na abordagem da Gestalt.

É fato de que o primeiro contato com o terapeuta é primordial para a adesão ao tratamento psicoterápico, assim, através do desenho ele foi expressando suas dificuldades, passou a usar a fala. Nesse desenho ele cria um menino brincando e todo riscado, no processo ele foi se reconhecendo e houve um grande progresso.

É no processo de criação, que o cliente/paciente está em uma relação consigo mesmo, com o mundo, com o universo, podendo atuar, se transformar; pois é no ato de criar que estabelece o sentido e o modo de viver da pessoa, pois o criar e o viver estão ligados.

O fazer arte passa a ser um instrumento para a psicoterapia, como uma das expressões do humano além do verbal.

É a integração de todos esses mediadores, suas atividades expressivas e suas correntes teóricas que definem o trabalho do Terapeuta Expressivo.

Autor MARIA DE LOURDES  BATISTA

MARIA DE LOURDES BATISTA

@lurdinhapsi33

Maria de Lourdes Batista é psicóloga formada pelo PUC MINAS, Pós graduada em Psicopedagogia e em Dependência Química pela USFJ-MG. Especializou-se em Terapias Expressivas com Dr. Liomar Quinto de Andrade pela Labore Cursos, São José dos Campos – SP, além de possuir formação em Educação Artística pela FASC, em Pindamonhangaba, SP.

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