Diagnóstico em imagem pessoal: anamnese, triagem e devolutiva

É muito fácil taxar vaidade e autocuidado como coisas fúteis e desnecessárias. Nós psicólogos inclusive fazemos isso com muita frequência!

Em um mundo onde mulheres têm seu valor vinculado à sua beleza, ou falta dela, e seus corpos dissecados, analisados e publicizados é, na minha opinião, profundamente perverso abafar esse assunto sob o viés da futilidade.

Passei muitos anos – muitos mesmo – tentando me adequar, me esforçando para ser aceita e me sentindo feia, não merecedora. Lembro de, ainda criança, bastante incomodada com meus cabelos, fantasiar sobre como seria a minha imagem quando adulta, esperando, com todas as minhas forças, que a beleza me alcançasse em algum momento da vida!

Sei que muita gente me vê hoje e duvida que algum dia eu me senti assim. E a verdade é que nessa busca por aceitação eu me perdi!

E Fashion Psychology é pra mim muito mais do que carreira, é bandeira! Porque Fashion Psychology foi a minha redescoberta.

Hoje eu sei que a imagem pessoal é o maior desencadeador de processos de vergonha, hoje eu sei que o autocuidado é o primeiro a sair pela porta quando deprimimos. Hoje eu sei que a nossa aparência está na base da construção da nossa autoestima. E que uma boa autoestima é fundamental para sobreviver nesse mundo, ainda mais sendo mulher!

Sei que ainda sou, por muitos, taxada de fútil. E se isso é ser fútil, que seja! Sou mesmo! E é nessa contramão, contrariando a cultura acadêmica na qual eu me formei, que eu vejo mulheres desabrocharem e se empoderarem. E isso alimenta cada célula do meu corpo! E espero que possa alimentar as suas também!

Nesse primeiro artigo, vou falar sobre a importância da construção diagnóstica enquanto primeiro passo para o trabalho com imagem pessoal. Mas antes darei uma breve contextualizada na história e embasamentos da aplicação da Psicologia no campo da moda e da imagem pessoal.

Vamos começar?

Considerações sobre Fashion Psychology

Fashion Psychology nada mais é do que a aplicação do conhecimento da Psicologia à moda e imagem pessoal. Pode parecer que se trata de algo novo, porém as primeiras referências dessa aplicação podem ser encontradas na obra de William James, considerado por muitos como o pai da Psicologia moderna.

James tinha profundo interesse pelos aspectos auto expressivos do processo de se vestir. Para ele as roupas constituem parte essencial do eu material e influenciam também o eu espiritual e o eu social. (WATSON, 2004). Sua perspectiva sobre o vestir foi influenciada pelo texto “Filosofia do Vestir” que faz parte da obra “Microcosmos” (1885) de Hermann Lotze.

Em sua obra Lotze defende que tudo que o homem coloca sobre seu corpo, cada elemento, se torna parte de si mesmo. O look criado pelo seu modo de se vestir combina e é, dessa maneira, reflexo da sua essência.

Nem na alfaiataria nem na legislação, o homem procede por mero acidente. A mão é sempre guiada por misteriosas operações da mente. Em todos os seus modos e empreendimentos habilidosos, uma idéia Arquitetônica será encontrada à espreita. Seu corpo e o tecido são o lugar e o material sobre os quais o seu belo edifício, de um pessoa, deve ser construído. – CARLYLE, 1836 In WATSON, 2004)

Dawn Karen, Psicóloga graduada pela Universidade Colúmbia, localizada em Nova Iorque, Estados Unidos, reivindica o título de pioneira em Fashion Psychology, dando continuidade aos estudos que William James começou em Harvard, desde 2012.

Atualmente os estudos acerca da aplicação da Psicologia à moda encontra lugar dentro da abordagem cognitiva-comportamental. Temos como principais referências acadêmico-científicas: Carolyn Mayer e Karen J. Pine.

Carolyn Mair é Psicóloga Cognitiva certificada pela Sociedade Britânica de Psicologia e responsável pelo desenvolvimento e implementação do primeiro programa de mestrado em Psicologia aplicada à Moda do mundo, ministrado na mundialmente renomada London College os Fashion, University os the Arts London.

O programa de mestrado, reconhecido e premiado pela Sociedade Britânica de Psicologia, conta com disciplinas de Psicologia Cognitiva, Psicometria, Cognição Social e Desenvolvimento, Teorias da Personalidade, entre outras em seu conteúdo programático.

Carolyn é autora de várias pesquisas e artigos científicos e, em maio deste mesmo ano, publicou o livro “The Psychology of Fashion” (sem tradução disponível) compilando dados dessas pesquisas para apresentar uma introdução sobre as relações entre moda, comportamento humano e processos cognitivos.

Por sua vez, Karen J. Pine, PhD em mudança comportamental e professora de Psicologia na University of Hertfordshire, em Londres, é também autora de diversas pesquisas e artigos científicos, além de ser autora do primeiro livro, publicado em 2014, a abordar abertamente a relação entre Psicologia e Moda: “Mind what you wear: the psychology of fashion” (sem tradução disponível).

Como a psicologia cognitivo-comportamental e moda se relacionam


A maior parte das pesquisam que estudam a aplicação da psicologia à moda procuram compreender quais processos cognitivos (sensação e percepção, memória e aprendizado, atenção, comunicação, criatividade, resolução de problemas e pensamento) e áreas cerebrais estão envolvidos na demanda por moda e como eles influenciam esse processo. Além de como essas correlações influenciam a dinâmica de relações e interações sociais.

Tudo isso com objetivo de predição e influência sobre variáveis que participam da emissão de comportamentos relacionados à comunicação visual. Vejamos alguns desses estudos:

- Enclothed Cognition (ADAM, Hajo; GALINSKY, Adam D. 2012):

Adam e Galinsky introduzem o termo “enclothed cognition”, cognição indumentária na tradução, para descrever a influência sistemática que as roupas exercem sobre os processos psicológicos.

Eles afirmam que os processos cognitivos ativados se relacionam com dois fatores interdependentes: o significado simbólico da roupa e a experiência física que usá-la causa. Para esse estudo foram realizados três experimentos que comprovaram que determindas roupas são capazes de aumentar, entre outros processos cognitivos, a atenção de quem as utiliza.

- O efeito da aparência em primeiras impressões (PINE, Karen J; FLETCHER, Ben; HOWLETT, Neil. 2011):

Primeiras impressões são formadas rapidamente e muito frequentemente com alta precisão. Esse estudo contou com 306 voluntários que avaliaram 8 imagens (4 masculinas e 4 masculinas) em 5 dimensões importantes para interações sociais e econômicas: confiança, sucesso, confiabilidade, salário e flexibilidade.

Os resultados apontam que mínimas manipulações nas roupas das pessoas que tiveram suas imagens avaliadas causaram grande impacto nas avaliações realizadas pelos voluntários.

Esse foi o primeiro estudo a utilizar imagens que não revelavam o rosto dos avaliados, eliminando quaquer influencia de expressões faciais. Concluindo que as roupas que vestimos tem alto impacto na primeira impressão que causamos.

Estudos anteriores, similares a este, com destaque para as pesquisas de Alexander Todorov (2006), já indicavam que a aparência exerce fundamental importância em como pessoas são avaliados por outras, impactando diretamente nas relações sociais e econômicas.

A grande diferença é que, até então, tais pesquisas focavam o estudo da face, com indicativos de informações geradas a partir de uma primeira impressão sendo arquivadas de maneira extretamente ágil (certa de 0,001 segundos) e no centro emocional do cérebro.

- Uma perspectiva psicológica cognitiva e social sobre a demanda por moda (MAIR, Carolyn. 2014):

O processo de tomada de decisão relacionado ao consumo é complexo e variável e, por isso, ainda não bem conhecido. Nesse estudo, Carolyn vem apontar como relações sociais e valores pessoais influenciam fortemente nesse processo elucidando algumas importantes questões acerca da demanda por moda.

A terapia de aceitação e compromisso (ACT)


Como pesquisas indicam, as interações sociais e os valores pessoais de cada pessoa impactam diretamente nas escolhas que essas pessoas farão, ao longo de sua vida, em relação a sua imagem pessoal.

Todo o processo que envolve a construção de uma autoimagem e apresentação visual de uma pessoa é composto por comportamentos aprendidos ao longo da vida que podem estar embasados em regras rígidas, levando a construção de crenças limitantes, inflexibilidade comportamental e, portanto sofrimento.

A ACT propõe um modelo unificado de mudança do comportamento... (que) visa flexibilizar a função dos processos cognitivos e aumentar o contato com as consequências presentes dos comportamentos guiados por uma vida com valores. (Barbosa & Murta, 2014)

E é por tudo isso que considero a terapia de aceitação e compromisso como uma boa guia diretiva para lidar com questões relacionadas à imagem pessoal.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), criada por Hayes e colaboradores na década de 1980, historicamente vem sendo incluída, inclusive pelo próprio Hayes (2016), no rol das Terapias Cognitivas e Comportamentais da chamada terceira onda das terapias comportamentais.

A ACT é embasada por uma filosofia chamada Contextualismo Funcional. E veja só quem aparece aqui novamente: “Contextualismo é o termo de Stephen Pepper (1942) para o pragmatismo na tradição de William James (lembra-se dele logo ali no início do texto?)” (Hayes et al, 2012)

A ACT considera que todo comportamento está incluído em um contexto situacional e histórico e que todo organismo interage em e com um contexto (Barbosa; Murta, 2014). Dessa maneira a predição e influência do comportamento dependem da identificação das variáveis contextuais que provocaram esse comportamento.

Nesse sentido comportamento é tanto o comportamento observável quanto o comportamento emocional ou cognitivo. E o contexto é composto de histórias (relatos mentais que criamos) e situações concretas (que podem ser validadas por outras pessoas) relacionadas ao comportamento.

E é a teoria dos quadros relacionais (TQR), uma abordagem pós-skinneriana da linguagem e da cognição, que vai embasar a intervenção sob essas variáveis. Segunda a TQR, o núcleo da linguagem e da cognição é a “habilidade aprendida e controlada contextualmente (comportamento operante) de arbitrariamente relacionar eventos mutuamente e em combinação e de mudar a função de eventos específicos baseando-se em suas relações com outros eventos” (Hayes et al, 2006)

Relacionar eventos é transformar sua função. Por exemplo, ir ao salão cortar o cabelo é algo prazeroso e relaxante para uma cliente. Mas lhe traz sofrimento ao relembrar do recente falecimento abrupto da mãe com quem havia combinado de deixarem os cabelos crescerem para serem doados. Veja que as funções de cortar o cabelo variam conforme a relação estabelecida.

O modelo de mudança comportamental proposto pela ACT é chamado de flexibilidade psicológica, que se resume na “habilidade de estar em contato com o momento presente e manter ou mudar de comportamento em função dos valores escolhidos” (Barbosa & Murta, 2014).

Nesse caso, flexibilidade é ser capaz de reconhecer que, se o cuidado com os cabelos é um valor importante, dado o momento presente, é possível balizar o comportamento por esse valor e, ainda assim homenagear essa mãe que não se encontra mais presente. Dessa maneira manipulamos as variáveis ambientais que influenciam o comportamento alterando a sua função.

Segundo Hayes e Brownstein (1986) devemos desenvolver a habilidade de manipular o contexto, uma vez que manipular diretamente o comportamento de outras pessoas nunca será possível. Skinner dizia que “na prática, todas as formas de mudar a mente de uma pessoa se reduzem a manipular seu entorno (ambiente), verbal ou de outro tipo” (HAYES et al, 2012)

Fica aqui, portanto, uma pergunta comumente feita a clientes: qual é o ambiente no qual, independente das circunstâncias, estamos SEMPRE nele? Ambiente esse que, como mostram resultados de pesquisas, influencia diretamente na nossa autoestima, saúde emocional, confiança, interações sociais e econômicas, entre outras variáveis fundamentais para uma vida plena?

Porque o diagnóstico é uma etapa importante


Considerando que todo comportamento está inserido em um contexto situacional e histórico, é primordial compreender a função que ele cumpre dentro desse contexto.

Ainda utilizando do mesmo exemplo, compreender a função que o comportamento de não cortar os cabelos, apesar se ser um valor para cliente, estava cumprindo foi fundamental para o manejo bem sucedido do caso.

E, em se tratando de prever e intervir em comportamentos humanos, a habilidade para construir diagnósticos constitui um grande diferencial, no qual nós Psicólogos costumamos nos sair relativamente bem.

O diagnóstico tem início com a anamnese, mas não se limita a ela, tendo continuidade nas primeiras sessões e, até mesmo, durante todo o processo. E é isso que permite a qualquer momento a reavaliação das hipóteses construídas e alteração de estratégias terapêuticas, sempre que necessário, uma vez que o processo tem natureza mutável.

Estou falando a partir do lugar da ACT, que se baseia em uma filosofia pragmática (HAYES et al, 2012). E, de maneira similar a outras abordagens cognitiva-comportamentais, entende que havendo uma boa compreensão do fenômeno que está sendo apresentado, torna-se muito mais fácil o planejamento de estratégias para atingir os objetivos desejados. Tornando muito mais fácil a avaliação da eficácia de determinada intervenção psicológica (SOUZA & CANDIDO, 2010 / ARAÚJO $SHINOHARA, 2002).

É a etapa do diagnóstico que permite compreender como a pessoa desenvolveu e mantém as dificuldades que ela apresenta, dando indícios de como ela se comportará no futuro diante de contextos similares. Nesse sentido, ela é mais do que o simples diagnóstico. É o momento de compreensão global do funcionamento do cliente em relação à sua imagem pessoal, mapeamento das suas habilidades em relação a essa imagem e a sua comunicação visual, levantamento de hipóteses e construção de um plano de intervenção.

Aproveito para frisar que o diagnóstico não deve ser construído a duas mãos.

Você deve, preferencialmente, discutir com o cliente suas hipóteses, a fim de validá-las e envolver o cliente no plano de intervenção que foi construído para ele.

Esse ponto é essencial para garantir a colaboração do cliente no processo, o que pode, inclusive, ser pactuado com o uso de ferramentas de formulação de compromisso. Eu mesma costumo usar muito dessa estratégia!

Aqui o sucesso do processo depende tanto mais do cliente quanto de você, terapeuta!

Como desenvolver um diagnóstico em imagem pessoal


Existem muitas maneiras de se realizar um diagnóstico e diferentes instrumentais podem ser utilizados para esta finalidade. Vou falar de duas ferramentas que eu gosto muito e utilizo sempre:

Entrevista:

A entrevista é o recurso mais tradicional que conhecemos para elaborar um diagnóstico, considerado por muitos como o instrumental mais poderoso de que um Psicólogo dispõe.

A imagem pessoal de uma pessoa é resultado de uma série de comportamentos (escolher qual roupa usar, decidir pentear o cabelo ou passar maquiagem, criar histórias sobre o que as pessoas pensam a seu respeito, comprar roupas, etc) aprendidos e que se relacionam com contextos distintos da vida do cliente.

Dessa maneira informações acerca dos problemas atuais relatados pelo cliente, como eles se desenvolveram ao longo da sua história de vida e como eles são mantidos são fundamentais.

Por isso acredito ser fundamental investigar a história de vida do cliente, quais são as pessoas de referência em sua vida, especialmente àquelas relacionadas à construção da sua autoimagem e estilo pessoal e que lhes ensinara, ou não, as habilidades necessárias para se vestir e comunicar-se visualmente. Como se deu o se desenvolvimento, quais suas primeiras experiências com roupas e com o próprio corpo e imagem, aspectos da juventude, primeiros relacionamentos, entrada para a vida adulta, etc.

Também acho necessário procurar por pensamentos e crenças disfuncionais associadas aos problemas apresentado pelo cliente e quais são as suas reações emocionais, fisiológicas e comportamentais frente a esses problemas.

Quais são os eventos que desencadeiam ou contribuem para o desencadeamento desses problemas e, consequentemente das estratégias adaptativas adotadas pelo cliente. E, portanto, quais são as estratégias (cognitivas, afetivas e comportamentais) utilizadas pelo cliente para lidar com esses problemas.

Para o cliente algumas informações podem parecer irrelevantes num primeiro momento, uma vez que o que ele busca é uma transformação visual. Ele ainda não compreende que para modificar os comportamentos que resultam na imagem que lhe traz sofrimento e resultados insatisfatórios é preciso analisar e intervir em contextos que, aparentemente, não se relacionam com o que percebemos como resultado final.

Uma dica muito importante para organizar e instrumentalizar este momento é levantar perguntas chaves que auxiliarão na coleta de todas essas informações citadas acima. Nesse momento ouse pensar fora da caixa! Informações aparentemente simples como quais roupas o cliente mais gosta podem se mostrar reveladoras. Sugiro que você crie um roteiro que auxiliará a execução das entrevistas.

Acredito que, ao menos no primeiro momento, trabalhar com um roteiro por ser de extrema importância, principalmente considerando que Psicólogos não estão naturalmente ambientados com questões relacionadas à moda e imagem pessoal que podem ser cruciais para a construção desse diagnóstico. E que podem, facilmente, serem esquecidas e deixadas de lado, se contarmos apenas com o suporte da nossa memória.

Algumas perguntas fora da “caixa da psicologia” podem ser: Existe algum momento em que você sai para fazer compras? Qual sentimento leva você a fazer compras: estresse, lazer, contrariedade, prazer, melancolia? Qual o grau de importância do seu cabelo para você?

Para complementar as informações obtidas na entrevista, você pode utilizar de uma série de instrumentais complementares, como é o caso da próxima ferramenta que vou passar para você.

Redação: “como eu me vejo”:

Uma boa alternativa para auxiliar nessas primeiras entrevistas, já sensibilizando e preparando o cliente é utilizar da escrita. Solicitar que o cliente escreva, detalhadamente, como ele se vê (interna e externamente) pode trazer importantes elementos à luz e auxiliar sobremaneira na construção das hipóteses.

Essa redação pode ainda auxiliar na construção do objetivo que o cliente deseja alcançar ao servir de gatilho para a reflexão de como ele gostaria, então, de ser visto, considerando que a procura por ajuda indica que a forma “como eu me vejo” está insatisfatória.

A formulação de objetivo

Completada essa primeira fase é hora de organizar as hipóteses levantadas para então definir quais intervenções e metas serão planejadas para auxiliar o cliente.

Como eu já disse, uma intervenção focada em resultado tende a ser muito mais assertiva. E, portanto, a boa formulação de um objetivo de trabalho é parte importante nessa primeira etapa.

“...analisar um acontecimento tem êxito quando se faz o que se pretendia fazer com essa análise. A verdade é, desse modo, pragmática: se define pelo fato de que uma determinada atividade (ou conjunto de atividades), contribui ou não para atingir um objetivo específico (...) Sem um objetivo formulado verbalmente, nenhum comportamento modelado por suas consequências seria “verdadeiro”. Uma vez que há um objetivo formulado verbalmente, no entanto, podemos avaliar qual o ponto da prática analítica poderá nos ajudar a alcançar este objetivo.” (HAYES et al, 2012)

Ter clareza de que objetivo é esse é fundamental! Eu, inclusive, recomendo que se trabalhe com apenas um objetivo principal. Preferencialmente um objetivo bastante específico, desejavelmente alcançável dentro do prazo de duração do processo e passível de avaliação prática e concreta do seu alcance.

Nesse sentido é preciso que cheguemos ao âmago da questão do cliente, o que torna a fase de diagnóstico tão fundamental! É importante identificar o que é, de fato, o objetivo fim do cliente, e quais são os meios (que posteriormente serão utilizados como evidências do alcance desse objetivo) para alcançá-lo.

A diferença entre objetivo fim e meios é que “a relação entre os meios e fins pode ser avaliada, mas os objetivos finais não podem ser avaliados, apenas formulados” (HAYES et al, 2012).

Uma das minhas clientes me disse que seu objetivo era aprender a comprar roupas sozinha. Sob uma investigação mais aprofundada descobri que ela desejava comprar roupas sozinhas e dominar o seu estilo pessoal para parecer uma mulher bem sucedida. Assim, saber comprar roupas sozinha era um meio dela validar seu objetivo fim que era “parecer uma mulher bem sucedida”. E se parecer uma mulher bem sucedida é importante para a cliente, então parecer uma mulher bem sucedida é importante para a cliente. Entende?

Tudo isso evidencia um princípio muito importante do contextualismo funcional (HAYES et al, 2012): “é de pouca utilidade se limitar a prever e explicar as coisas, temos que saber mudá-las”.

E quando se trata da imagem pessoal, mesmo que o cliente precise e busque por ajuda psicológica, estamos tratando de problemas bem concretos, afinal o que é mais concreto que o nosso corpo e o que o está cobrindo?

Isso quer dizer que, para além das transformações internas, o que o cliente espera é uma verdadeira transformação externa, sendo o seu alcance a maneira mais precisa de avaliar o sucesso do trabalho!

REFERÊNCIAS

ADAM, Hajo; GALINSKY, Adam D. Enclothed Cognition. Journal of Experimental Social Psychology, v.48, n.4, p. 918-925, Jul. 2012. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022103112000200>.

ARAUJO, Cristiane Figueiredo; SHINOHARA, Helene. Avaliação e diagnóstico em terapia cognitivo-comportamental. Interação em Psicologia, v.6, n.1, 2006, p.37-43. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/3191/2554>.

BARBOSA, Leonardo Martins; MURTAM Sheila Giardini. (2015). Terapia de aceitação e compromisso: história, fundamentos, modelo e evidências. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v.16, n.3, 2015, p.34-49. Disponível em: <https://doi.org/10.31505/rbtcc.v16i3.711>.

HAYES, Steven C. Acceptance and Commitment Therapy, Relational Frame Theory, and the Third Wave of Behavioral and Cognitive Therapies (artigo republicado). Behavior Therapy, v.46, n6, 2016, p.869-885. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0005789416300946>.

HAYES, Steven C.; BROWNSTEIN, Aaron J. Mentalism, behavior-behavior relations, and a behavior-analytic view of the purposes of science. The Behavior Analyst, v.9, n.2, 1986, p.175-190. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2741891/>.

HAYES, Steven C.; STROSAHL, Kirk D.; WILSON, Kelly G. Acceptance and commitment therapy: the process and practice of mindful change. The Guilford Press. 2012.

HAYES, S.C.; LUOMA, J. B.; BOND, F. W.; MASUDA, A.; LILLIS, J. (2006). Acceptance and commitment therapy: Model, processes and outcomes. Behaviour Research and Therapy, v.44, n.1, p.1-25. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0005796705002147?via%3Dihub>.

MAIR, Carolyn. The Psychology of Fashion. Ed. Routledge. 2018.

MAIR, Carolyn. A Cognitive and Social Psychological Perspective on the Demand for Fashion. In: 18th International Conference of the Association for Cultural Economics International (ACEI), June 24 – 27, 2014, University of Quebec, Montreal. Disponível em: < http://ualresearchonline.arts.ac.uk/7332/1/ACEI2014-50.pdf>.

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PINE, Karen J; FLETCHER, Ben; HOWLETT, Neil. The effect of appearance on first impressions. University of Hertfordshire in collaboration with Mathieson & Brooke Tailors Ltd. Disponível em: < http://karenpine.com/wp-content/uploads/2011/09/Executive-summary_The-Effect-of-Appearance-on-First-Impressions.pdf>.

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Autor Debora Blaso Moreira

Debora Blaso Moreira

@deborablaso

Psicóloga (CRP04/39485) pela PUC Minas, com formação em Coaching Psychology e em Consultoria de Imagem e Personal Stylist. Estudiosa de Fashion Psychology e fudadora da Re-forma Visual, empresa pioneira no Brasil em Fashion Psychology, onde atua, desde 2016, empoderando mulheres através da imagem pessoal,singularizando o padrão de beleza!

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