Mitos e Verdades sobre mindfulness na psicoterapia

Este artigo vai ser diferente dos outros que já escrevi por aqui! Porque a ideia dele é ser um “pa-pum”, rápido e direto, planejado com as melhores dúvidas que sempre recebo. Vamos lá?


MITO 1 - As terapias baseadas em mindfulness são exclusividade da TCC

A VERDADE:

Grande parte das terapias baseadas em mindfulness tem como alicerce a psicologia cognitiva, mas há diferenças gritantes no exercício clínico e nos fundamentos de uma e da outra. Mesmo assim, não há qualquer senso de exclusividade aí.

Todo e qualquer psicólogo pode trabalhar com mindfulness.

A prova disso é o Mindfulness Psychology, um curso que explora estas várias vertentes. Inclusive há a disciplina de Mindfulness e Psicanálise, mostrando como um psicanalista poderia utilizar-se deste corpo metodológico (engana-se quem acha que não tem nada a ver, ein?). Ainda, há semelhanças entre mindfulness e todas as abordagens humanistas.

Alguns colegas ainda pensam que os especialistas em TCC teriam vantagem no trabalho com mindfulness, mas não funciona bem assim. Eles são muito capazes de entenderem facilmente as estratégias elaboradas em alguns dos protocolos existentes, mas mindfulness tem uma qualidade afetiva que é imprescindível e entender isso é uma dificuldade não só dos colegas peritos em TCC, mas de algumas outras abordagens também.


MITO 2 - É difícil aprender a meditação mindfulness

A VERDADE:

Mindfulness é absolutamente simples, e nesta nova versão atualizada, pode ser encaixada na rotina de qualquer pessoa. Diferente do conceito do senso comum de meditação,  mindfulness não implica em deixar a mente em branco, limpar a mente dos pensamentos e conceitos afins.

Mindfulness requer, tão somente, a observação de tudo o que acontece dentro e fora do indivíduo, com aceitação e não julgamento.

Isso aumenta muito a observação terapêutica do indivíduo, que nos traz muito material produtivo para terapia. As práticas, em geral, variam em relação ao grau de complexidade e quem determina a evolução são as necessidades do paciente.

Há um segundo mito aqui, que identifica mindfulness e meditação, e elas não são a mesma coisa. Mindfulness se utiliza de algumas técnicas meditativas, mas vai além delas. E, por outro lado, nem toda técnica de meditação desenvolve a atenção plena, portanto, cuidado quando se referir à mindfulness como meditação.


MITO 3 - Mindfulness é uma panacéia

A VERDADE:

O ritmo das descobertas científicas tem sido tão surpreendente que a maioria das pessoas acreditam que mindfulness é uma panacéia, serve para tudo e para todos, e mesmo os estudos científicos não pautam (ainda) as limitações do corpo metodológico da atenção plena.

No entanto, autores renomados como o Prof. Javier Garcia Campayo, Marcelo Demarzo, entre outros, afirmam que a prática encontra sim suas limitações.

De acordo com esses estudiosos, em geral, alguns tipos de personalidades não se adaptam à prática. Mas não pense que são as pessoas mais agitadas que não conseguem… em geral, essas se adaptam muito bem! Temos aí mais um campo de pesquisa aberto para explorar científicamente.


MITO 4 - Mindfulness é mais uma técnica de Relaxamento, num formato moderno

A VERDADE:

Apesar de poder agregar sim um certo nível de relaxamento, isto é apenas um efeito secundário da prática, jamais seu objetivo.

Nem sequer se espera este efeito das práticas.

Lembro que em mindfulness não usamos sugestão nenhuma, única e exclusivamente o exercício de observação com aceitação e não julgamento - sendo este o principal objetivo de mindfulness, criar este estado de ser e estar. Podemos ver o desenvolvimento da atenção plena como um novo modelo cognitivo. 


MITO 5 - Mindfulness é para pessoas do estilo New Age

A VERDADE:

Bom, é verdade que o pessoal mais conhecido como “bicho grilo” já encaram muito bem a metodologia mindfulness, mas basta dizer que nos EUA já houve um investimento de mais de um milhão de dólares em mindfulness, só no Vale do Silício.

E se aqui vale um posicionamento político-econômico, eis que fica o meu: Já existem críticas sobre este alto investimento em mindfulness, que não seria para a melhora da qualidade de vida dos colaboradores, mas sim destinados somente ao aumento da lucratividade das empresas.

Sim, isso faz muito sentido, na medida em que os trabalhadores têm seu foco aumentado, sua produtividade também melhora muito. Porém, outros setores das suas vidas também se irão se desenvolver: o aumento da regulação emocional, da sua satisfação com a vida e a melhora da flexibilidade cognitiva não vão afetar somente o ambiente de trabalho, mas também vão impactar sua vida pessoal, o ambiente do seu lar e até as pessoas com quem convive.

Seja lá qual o objetivo das empresas, acredito que o que vale é o resultado final, a nível individual.


MITO 6 - É preciso muito tempo de dedicação em mindfulness para se obter algum resultado.

A VERDADE:

A grande verdade é que para alcançar os efeitos de mindfulness, tão aclamados pela ciência, é preciso paciência. É preciso também entrar na prática sem o objetivo de alcançar algum estado, pois esta ânsia pode gerar frustração.

No geral, o surgimento dos benefícios varia de pessoa pra pessoa, mas na média de 8 semanas de prática são suficientes para produzir mudanças estruturais no cérebro.

Outra variável deste tempo para colher os doces frutos de mindfulness é o tipo de programa a qual você se dedica. Em geral, os programas de mindfulness têm 8 semanas e variam em relação aos temas: há programas para redução de estresse (MBSR), para evitar recaídas na depressão (MBCT), para desenvolver-se de forma mais positiva (Revolução Mindfulness, que logo terá uma versão online), para melhorar sua relação com a alimentação (MB Eat e Mindufl Eating), dentre outros.

A qualidade do processo de psicoeducação vai impactar diretamente na aderência à prática e, portanto, no tempo necessário para observar os primeiros benefícios.


MITO 7 - Para trabalhar com as terapias baseadas em mindfulness, o psicólogo precisa abrir mão da sua abordagem e ferramentas usuais

A VERDADE:

Mindfulness vem para agregar, tão somente. Mindfulness exclui todo tipo de radicalismo, já que um dos seus principais objetivos é aumentar a flexibilidade cognitiva, logo toda visão unilateral pode ser excluída.

As técnicas de mindfulness podem nos ajudar  dentro da visão que nós já temos, com as ferramentas que já utilizamos.

É comum a adaptação dos princípios de mindfulness com técnicas clássicas da psicologia, agregando ainda mais responsividade nas intervenções. Só fica o alerta: para poder trabalhar com responsabilidade é preciso entender como o desenvolvimento da atenção plena é sistematizado, isso dará respostas de “como e quando utilizar” as técnicas e suas adaptações.


8 - Para trabalhar com mindfulness é preciso praticar mindfulness

A VERDADE:

No caso de nós, psicólogos, sim, é preciso sim!

Isso garante o desenvolvimento da empatia, da nossa presença em setting e também impacta na aderência ao tratamento do seu paciente!

Além disso, há hipóteses de que há modulação de neurônios-espelho, e que a prática de mindfulness poderia ser aprendida também por este meio, o que fortalece o vínculo entre psicoterapeuta e paciente - mas este assunto fica para um próximo post!

Autor Sheila Drumond

Sheila Drumond

@sheiladrumond

Sheila Drumond é psicóloga clínica, fez suas formações em mindfulness e psicologia positiva em Buenos Aires, fundou no Paraná um Centro de referência em mindfulness, onde desenvolve programas, estudos, pesquisas e formação especialmente para psicólogos.

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