A psicoterapia psicanalítica com crianças

Olá! Em nosso último vídeo, gravamos com a Cristiane Boaz, falando sobre a psicoterapia infantil na perspectiva da psicanálise. Se você ainda não assistiu, pode ver clicando aqui). E dessa vez, apresentamos um texto escrito pela nossa convidada e especialista no tema abordado, para falar um pouco mais desse assunto.

Cristine Boaz é psicóloga (CRP 07/16606); especialista em psicoterapia psicanalítica; mestre em psicologia clínica, idealizadora do Projeto Matryoshkas e parceira da Simples Insight.

Vamos lá?!


A psicoterapia com crianças possui muitas peculiaridades em sua técnica que a difere do atendimento adulto: o brincar e os brinquedos (a caixa individual), o atendimento a pais e, às vezes, o contato com outros profissionais ou escola.

Exige do terapeuta muita análise pessoal para lidar com as demandas da criança e da família que a traz ao atendimento, e muita supervisão para pensar a respeito da prática.

Não há regra específica de número de sessões e de tempo de tratamento, dependendo de cada caso e das características da dinâmica de cada família.

Um espaço para brincar


O brincar na psicoterapia infantil equivale ao falar do adulto, é a associação livre.

O brincar na terapia traduz algo que se passa com a criança que ainda não encontrou uma outra forma de expressão, pela sua imaturidade emocional.  A criança que não brinca na sessão precisa passar por um processo de aprendizagem de brincar, assim como se faz com um adulto que não consegue falar, nomear o que sente e descrever seus pensamentos.

O brincar é rico em significado e é através dele que a criança descobre o mundo, cria, imagina, fantasia e lida com a realidade dolorosa/elabora.

A criança quando brinca, muitas vezes, está lidando com questões que lhe são assustadoras, que são fontes de suas angústias, mas sabe que nada de ruim ou perigoso lhe acontecerá, por tratar-se de uma criação sua, da qual tem controle. Por isso, muitas vezes, sendo necessário repetir infinitas vezes a mesma brincadeira ou história até que seja elaborada.

Assim, o brinquedo dá um contorno ao sofrimento ainda não nomeado, podendo conter as suas angústias.

As brincadeiras podem ser as mesmas para crianças de diferentes idades, mas o significado que é atribuído a elas varia de acordo com a fase de desenvolvimento, conflitos e situações de vida pelas quais está passando. Por isso, o terapeuta infantil precisa conhecer a fundo as fases do desenvolvimento: os conflitos envolvidos e o que é esperado.

Alguns autores importantes que fornecem um aporte teórico e técnico nesta área são: S. Freud, Anna Freud, D. W. Winnicott, F. Dolto, J. Bowlby, R. Spitz, M. Mahler e A. Aberastury. Vale a pena procurar esses autores e se aprofundar mais nessas questões.

O que não esquecer na psicoterapia infantil!


O psicólogo também precisa saber que existe tristeza na infância, a qual é diferente de um transtorno depressivo. Cada fase do desenvolvimento envolve um luto pela perda de algo que era prazeroso até então, por exemplo: desmame e desfralde.

Essas perdas devem ser nomeadas à criança.

Em contrapartida, há crianças que vivem entediadas, sem desejo ou tempo para inventar algo diante do vazio. Atualmente, muitos pais preocupam-se excessivamente com o futuro dos filhos e acabam esquecendo-se do presente e até do passado, ou seja, da história de vida da criança, de onde ela veio e à quem pertence, o que pode ocasionar este sentimento de vazio e de insatisfação constante.

Os pais, por sua vez, precisam ser escutados quando se trata de atendimento infantil.

Se o terapeuta não cria um forte vínculo com os pais, não existe terapia que vá adiante. Por isso, no início do processo psicoterapêutico, é necessário criar um laço de confiança com os responsáveis pela criança. São os pais os protagonistas para mudança na criança. Sem a ajuda deles, o terapeuta não consegue trabalhar, pois eles fazem parte do cotidiano da criança.

Para isso, o terapeuta precisa estar resolvido com os seus pais internalizados.

Daí a necessidade do tratamento pessoal.

E para finalizar, deixamos aqui a dica de um filme bem recente (2016) e que vale assistir: "O começo da Vida". Está disponível no Netflix e trás reflexões super importantes sobre os primeiros anos de desenvolvimento da criança.

Até logo!

Autor Simples Insight

Simples Insight

@simplesinsight

Que tal ouvir sobre psicologia e psicanálise de maneira leve, atual e divertida? Que tal aprender também sobre atendimento clínico, supervisão, atendimento online, redes sociais, início de carreira… Pois todos estes temas – e muito outros – serão tratados pelas psicólogas da Simples Insight. É a psicanálise abordada de uma forma mais solta, dinâmica e simples. Acessível para estudantes, profissionais e curiosos de plantão.

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