Oxitocina em Terapeutas: Um Biomarcador Potencial para Processos Terapêuticos Eficazes

Os profissionais de psicoterapia se deparam todos os dias com os sentimentos mais profundos e complexos de seus pacientes. É comum encontrarem emoções negativas, especialmente entre pacientes com transtorno depressivo maior. Mas o que acontece no organismo do terapeuta quando ele lida com essas emoções? Segundo um estudo recente conduzido por Hadar Fisher e seus colegas do Departamento de Psicologia da Universidade de Haifa, em Israel, a resposta hormonal do terapeuta pode ser mais relevante para o resultado do tratamento do que se imaginava.

Intitulado "Therapists' Oxytocin Levels Tied to Patient Outcomes" e publicado online em 7 de junho no Journal of Affective Disorders, o estudo explora a correlação entre os níveis de ocitocina - um hormônio geralmente associado à ligação social - dos terapeutas e a melhora dos sintomas depressivos de seus pacientes. Segundo o estudo, existe uma relação significativa entre os níveis de ocitocina do terapeuta e a associação entre as emoções negativas dos pacientes e a redução de seus sintomas depressivos.

Embora estudos anteriores tenham sugerido que as experiências emocionais dos pacientes, especialmente as emoções negativas, possam prever os resultados das psicoterapias para o transtorno depressivo maior, os mecanismos específicos que sustentam esse efeito ainda não foram completamente elucidados. Nesse contexto, o estudo propõe e testa um modelo de mediação, em que as respostas hormonais do terapeuta - representadas pelo aumento nos seus níveis de ocitocina - mediam a relação entre emoções negativas e a mudança sintomática.

Esta descoberta poderá trazer implicações importantes para o campo da psicoterapia e, especificamente, para o tratamento do transtorno depressivo maior. Ela sugere que a empatia do terapeuta e sua reação hormonal frente às emoções negativas do paciente podem desempenhar um papel crítico na eficácia do tratamento. Desta forma, a compreensão desses mecanismos poderia abrir caminho para abordagens terapêuticas mais eficazes.


Metodologia


O estudo em questão foi conduzido com base na evidência de que as experiências de emoções negativas dos pacientes podem prever os resultados da psicoterapia para o transtorno depressivo maior (MDD), embora os mecanismos específicos por trás dessa relação ainda permaneçam pouco claros. Para examinar esses mecanismos, os pesquisadores empregaram um modelo de mediação fundamentado no papel da ocitocina nas relações de apego, semelhantes àquelas entre pai e filho.

A metodologia para a coleta de dados foi rigorosa e envolveu um total de 435 amostras de ocitocina coletadas dos terapeutas antes e depois de cada sessão de terapia. As amostras foram coletadas de terapeutas que atendiam a um total de 62 pacientes que recebiam psicoterapia para o transtorno depressivo maior. As amostras de saliva para a análise de ocitocina foram coletadas de acordo com um cronograma fixo ao longo de 16 sessões.

Além disso, a escala Hamilton Rating Scale for Depression (HRSD) foi administrada ao Scale for Depression (HRSD) foi administrada aos pacientes antes de cada sessão de terapia, proporcionando aos pesquisadores uma medida padronizada dos sintomas depressivos dos pacientes. Após cada sessão, os pacientes relataram suas emoções vivenciadas durante a sessão, fornecendo assim um indicador subjetivo da experiência emocional dos pacientes e da intensidade das emoções negativas que eles enfrentavam.

Essa abordagem permitiu aos pesquisadores uma compreensão profunda e multifacetada dos processos que ocorrem durante a psicoterapia para o transtorno depressivo maior, particularmente o papel da ocitocina na modulação da resposta terapêutica à experiência de emoções negativas pelos pacientes.


Resultados


Os resultados do estudo conduzido por Fisher e colegas lançaram luz sobre a intrincada relação entre as emoções dos pacientes, as respostas hormonais dos terapeutas e os resultados do tratamento de pacientes com transtorno depressivo maior (MDD). Os achados apoiaram o modelo de mediação proposto pelos pesquisadores, revelando um vínculo entre as emoções negativas dos pacientes, os níveis de ocitocina dos terapeutas e a redução dos sintomas depressivos dos pacientes.

Primeiramente, observou-se que níveis mais altos de emoções negativas nos pacientes previam aumentos maiores nos níveis de ocitocina (OT) dos terapeutas do pré- para o pós-sessão ao longo do tratamento. Em termos numéricos, para cada aumento unitário no nível de emoção negativa do paciente, houve um aumento correspondente de 0,11 no nível de OT do terapeuta após a sessão, controlando para o nível de OT pré-sessão.

Em segundo lugar, maiores níveis de OT nos terapeutas previram uma redução nos sintomas depressivos dos pacientes na avaliação subsequente. Mais especificamente, para cada aumento unitário no nível de OT do terapeuta, houve uma diminuição correspondente de 0,97 na gravidade da depressão na sessão seguinte.

Em terceiro lugar, e talvez mais importante, os níveis de OT dos terapeutas mediam significativamente a associação entre as emoções negativas dos pacientes e a redução de seus sintomas depressivos. Isso sugere que o aumento da ocitocina nos terapeutas em resposta às emoções negativas dos pacientes pode representar a ativação do sistema de cuidado dos terapeutas, sinalizando o surgimento de uma interação terapêutica saudável.

Esses resultados demonstram que a resposta hormonal do terapeuta às emoções negativas do paciente - particularmente o aumento dos níveis de ocitocina - desempenha um papel significativo nos resultados do tratamento para o MDD. Esta descoberta reforça a importância da empatia do terapeuta e a sua resposta biológica às emoções do paciente na promoção de uma interação terapêutica eficaz e na facilitação da recuperação do paciente.


Conclusão


Os resultados deste estudo indicam que as respostas de ocitocina dos terapeutas podem desempenhar um papel importante no processo terapêutico eficaz. Eles apontam para um possível mecanismo biológico subjacente aos efeitos das experiências de emoções negativas dos pacientes nos resultados do tratamento, destacando a ocitocina como um potencial biomarcador de processos terapêuticos efetivos.

Os resultados destacam a complexidade da psicoterapia, revelando a interação bidirecional que ocorre entre terapeuta e paciente e a maneira como as emoções do paciente podem afetar fisicamente o terapeuta, que por sua vez afeta os resultados do tratamento. Mais do que isso, eles apontam para o potencial de futuras pesquisas nesta área para aprimorar ainda mais as abordagens terapêuticas, explorando como o entendimento dos processos biológicos e emocionais pode ser utilizado para maximizar os resultados do tratamento.

Autor Equipe Academia do Psicólogo

Equipe Academia do Psicólogo

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