As muitas psicanálises

Olá, jovem terapeuta! :)

Fala sério, para a grande maioria de nós, a psicanálise foi um idioma estranho e difícil de compreender.

Neste artigo vamos falar mais sobre o incrível mundo psicanalítico. Nossa ideia aqui é fazer uma espécie de voo panorâmico sobre a psicanálise.

Não há nenhuma pretensão de esgotar qualquer um desses temas em um simples artigo como este. Mas de iniciar uma melhor organização deste grupo de conhecimentos. Afinal, acreditamos que a psicanálise não está aqui para ser temida e que existe sim uma possibilidade de falarmos (ou no caso, escrevermos) de forma a facilitar essa compreensão.

Você vem com a gente?

O que é a psicanálise?

Segundo o próprio querido Freud, trata-se de: um procedimento de investigação dos processos mentais, um método de tratamento e uma disciplina científica.

Foi assim que ele descreveu o verbete para a Enciclopédia Britânica em 1923 e o apresentou no Congresso Psicanalítico Internacional de Berlim.

O exercício de disciplina científica, se deve as modalidades de pesquisa utilizadas na psicanálise: investigação teórica (pesquisa conceitual); pesquisa empírica; e pesquisa clínica (seja do paciente, seja da cultura).

Mais do que um relato clínico, Herrmann propõe que "todo analista pesquisa. O trabalho clínico, no dia-a-dia do consultório, é uma das formas mais elevadas de investigação. De cada análise, derivam-se prototeorias ad hoc que, às vezes, desembocam em teorias elaboradas o bastante para serem publicadas"

Já numa pesquisa mais atual com psicanalistas da IPA (International Psychoanalytical Association), diz-se que "o termo psicanálise refere-se a uma teoria do funcionamento e da estrutura da personalidade e é uma técnica psicoterapêutica específica. Esse corpo de conhecimento é baseado e derivado das descobertas psicológicas fundamentais feitas por Sigmund Freud”.

Mas por hora, avançamos sem o compromisso da compreensão total e imediata do que é a psicanálise. Vamos conversando por aqui, leia com interesse e calma, e na medida em que você for acompanhando os próximos conteúdos, logo será capaz de dizer: - Ah sim, isto é psicanálise!

Os filhos da psicanálise

Entendemos, de forma geral, que a psicanálise teve seu início em 1900 com os estudos de Freud. Mas não existe uma psicanálise única. Junto e após Freud, outros autores se unem e/ou rompem com a psicanálise.

Você já pode ter visto por aí: Jung, Reich e Adler assumiram novos caminhos após uma aproximação com Freud.

Já Ferenczi, Melanie Klein, Bion, Abraham, Winnicott e Lacan são autores conceituados e que seguiram e acrescentaram a teoria inicial proposta por Freud. Essa lista poderia ser facilmente ampliada para outros nomes, mas só com isso, já podemos ter dimensão de que a psicanálise é uma abordagem ampla, rica e continuamente atualizada.

Pois é, aos poucos você verá que esta não é uma teoria que parou no tempo.

As principais 7 escolas da psicanálise

Não existe uma verdade única, afinal, diferentes teorias e formas de pensar originárias da psicanálise foram desenvolvidas ao longo do tempo.

Podemos entendê-las como “escolas”.

Para ser considerada uma escola de psicanálise, é preciso apresentar conceitos originais, ter aplicabilidade na prática psicanalítica e atravessar gerações, inspirando e dando novos ramos e frutos, atravessando gerações de psicanalistas.

As sete principais escolas da psicanálise são:

  1. Escola Freudiana
  2. Escola das Relações Objetais
  3. Escola da Psicologia do Ego
  4. Escola da Psicologia do Self
  5. Escola Francesa
  6. Escola de Winnicott
  7. Escola de Bion

Cada uma destas escolas possui os seus principais autores, uma contribuição específica para a compreensão da vida psíquica humana, o desenvolvimento de conceitos chave e seguidores.

Na prática, você poderá notar diferenças entre as escolas, algumas mais sutis, outras nem tanto, no enfoque conceitual e em alguns aspectos da técnica no dia a dia do consultório.

Como isso tudo aconteceu?

Era uma quarta-feira nublada, por volta de 1900, quando um elegante senhor de barba cheia e charuto na boca abriu a porta de seu escritório para alguns de seus jovens amigos. Claro que estamos falando de Freud, você já sacou.

Este movimento se repetiu por semanas a fio e os assuntos tratados ali, naquelas famosas reuniões de quarta-feira, eram tão interessantes que o grupo se expandiu: formaram-se grupos em Berlim, na Alemanha; em Budapeste, na Hungria; e na Suiça, em Zurick.

Foi assim que Abraham, Ferenczi e Bleuler ajudam a espalhar a psicanálise pela Europa ainda antes da Segunda Guerra Mundial.

E após a Segunda Guerra, grupos importantes se formaram na Inglaterra, com dona Anna Freud e a senhora Melanie Klein; e na França, com o distinto Jacques Lacan.

Foi a partir destes diferentes grupos que as escolas da psicanálise foram se formando.

Não é um esquema de pirâmide, mas perceba como novas pessoas se juntam para desenvolver e ampliar estas teorias, e assim, o número de pessoas que dedicam suas vidas a acrescentar novas perspectivas à psicanálise aumenta cada vez mais.

Zimerman é um autor atual que contribui bastante para a compreensão desta bonita diversidade dentro da psicanálise “a verdade analítica não está nos autores, mas sim, nos nexos entre eles”. Ou seja, cada um de nós, ao invés de assumir uma posição polarizada, pode sim aproveitar essa variedade de vértices convergentes, divergentes e até contraditórios para aprender e aprimorar a própria prática analítica.

Hoje, temos os profissionais que, a partir do estudo e da vivência das teorias descritas acima, desenvolvem a sua própria identidade. Sempre muito comprometidos, assim esperamos, com o famoso triângulo do seu próprio processo de análise, do estudo da teoria e da supervisão clínica.

O que isso quer dizer?

Ou melhor, o que nós queremos te dizer com tudo isso?

Que sim, a psicanálise é uma disciplina profunda e complexa. Mas se você conseguir organizar o seu conhecimento e saber o que está estudando, o caminho se ilumina. Nem tudo é Lacan. Nós, por exemplo, curtimos muito mais a vibe Bion da psicanálise.

Existem, portanto, diferentes “espécies” de psicanalistas, que se originam da mesma raíz bela e fértil que é Freud, e que possuem características específicas tanto da sua identidade, quanto de uma ética comum.

Se você conheceu um colega de profissão nariz empinado, que só falava difícil (ou não falava nada, rs) não é o suficiente para generalizar.

Então, quando você fala de psicanálise, sabe de onde está falando?

Nos vemos em breve!

Autor Daiana Rauber e Nicácio Mendonça

Daiana Rauber e Nicácio Mendonça

@dairauber

NICÁCIO MENDONÇA é psicólogo (CRP 08/15806), possui Residência em Saúde Mental e Dependência Química, Mestrado em Psicologia pela UFPR, experiência como professor, coordenador de Pós-Graduação em Dependência Química da Universidade Positivo. Sócio-fundador do Instituto Frontale e da Árvida Clínica Integrada. Estudioso da Psicanálise, tendo participado de grupos de estudos pelo Grupo Psicanalítico de Curitiba (vinculado à IPA, Associação Internacional de Psicanálise). Experiência com supervisão e coordenação de grupos de estudo em Psicanálise e Dependência Química. DAIANA RAUBER, psicóloga de orientação psicanalítica (CRP 12/14296). Além de participar de grupos de estudos de psicanálise, possui experiência clínica desde 2015 e com treinamentos desde 2012. Foi editora da Academia do Psicólogo entre 2016 e 2019.

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