Pulsação: a via natural para a saúde emocional

Foi muito importante o movimento no mês de Janeiro com a Campanha Janeiro Branco, trazendo à tona a saúde mental (ou como preferimos tratar na Psicologia Biodinâmica: Saúde Emocional), abordando a desmistificação do tema e a necessidade de nos comprometermos com a nossa saúde emocional, com o nos fazer bem.

Convido você a continuar essa reflexão aqui comigo por um viés diferente do comum.

Não pensaremos aqui na saúde como a ausência da doença, das classificações tão conhecidas, nem na saúde que segue um parâmetro igual para todos. A proposta deste texto é pensar na saúde com foco na capacidade de pulsação. Ao olhar para a pessoa a partir da visão de desenvolvimento da Biodinâmica, percebemos que os sintomas começam a aparecer quando a pulsação natural da pessoa é bloqueada, impedida.

Você deve estar se perguntando: “Mas o que é essa tal de pulsação que ela tanto fala?” Vamos lá então.

Se buscarmos no Aurélio acharemos algo como:

  • Pulsação: ato ou efeito de pulsar, movimento de contração e dilatação do coração e das artérias.
  • Pulsar: Mover por meio do impulso. Pôr em movimento desordenado; agitar. Efetuar a pulsação, palpitar.

A pulsação é o movimento natural básico de todo ser humano.

O bebê ao nascer é um ser pulsante e se tiver suas necessidades atendidas desde o momento pré-natal, ele continuará a pulsar.

O que acontece é que quando o bebê não tem as suas necessidades atendidas, vai perdendo a pulsação como forma de evitar a dor. Isso vai acontecendo com a intensidade e repetição dos eventos. E quanto mais cedo acontecem os traumas, mais sérios eles são, mais difíceis de lidar e mais profundos os buracos que deixam para serem preenchidos.

E a forma de lidar com tudo isso é parando de pulsar. Sim, parando de sentir. Não é o que fazemos quando damos uma topada com o dedo do pé na ponta de um móvel? Não prendemos a respiração para não sentir a dor?

Começam a aparecer aí as couraças, as defesas físico e emocionais que vão se instaurando e formando o adulto que será depois.

Costumamos dizer na Biodinâmica, que cada um faz o melhor que pode naquele momento. Então, as couraças, nada mais são do que a melhor forma encontrada naquele momento de vida, por aquela pessoa, para continuar a existir. Elas seguramente foram muito úteis, afinal estamos todos aqui hoje. E merecem o nosso respeito.

E assim vai se formando uma postura padrão diante da vida.

O problema é que isto foi eficiente lá atrás e muitas vezes não é mais hoje. As mesmas defesas que foram muito úteis para aquele bebê, aquela criança lá atrás, hoje podem ser um grande empecilho para relacionamentos saudáveis, para deslanchar na sua carreira profissional, para se sentir bem consigo mesmo.

Não atende as necessidades atuais da pessoa adulta, do momento presente, pois essa postura de vida “padrão” – o próprio termo já traduz algo fixo, sem mobilidade, que é utilizada em todas as relações e contextos -  apresentam tensões e restringem o movimento da musculatura, a ação natural e espontânea, o que limita a expressão.

Nós deixamos de pulsar.

E o que é este pulsar?


É a capacidade de contrair-se e ir em direção ao seu núcleo, sua essência, estar em contato com seu corpo, suas sensações, reconhecer suas necessidades – e expandir – ir ao encontro do outro, se colocar no mundo, estar em contato com o que acontece ao seu redor, compartilhar.

Pulsar implica que a pessoa seja capaz de fazer esses dois movimentos -  que não fazem sentido um sem o outro. Afinal, é necessário estar em contato com você, saber o que sente, deseja, para ir ao contato com o outro, se colocar, buscar, compartilhar e até discordar. Também é necessário estar em contato com o mundo exterior para saber como este te afeta, para olhar lá dentro e perceber-se.

É um saudável movimento de ir e vir, dentro e fora. Contrair e relaxar.

O natural é que tenhamos momentos em que estamos mais “na nossa casinha”, nos curtindo, cuidando de nós mesmos, hibernando e que tenhamos outros momentos em que estamos mais comunicativos, querendo trocar, conviver, interagir. Porém, geralmente, temos mais movimentos de um ou de outro.

Essa capacidade de pulsar é garantida pela autorregulação.  Para quem não lembra, vou trazer um pouco desse conceito base da Biodinâmica que abordei no primeiro texto escrito aqui para a Academia:

A autorregulação é a capacidade inerente e natural que o organismo saudável tem de manter e buscar a homeostase, o equilíbrio, o poder de exprimir, resolver e digerir até mesmo violentos choques emocionais, contanto que tenha as condições necessárias de paz e segurança. É uma sabedoria natural do organismo, um princípio de autocura.

Desde muito cedo e no decorrer da vida, as repressões e os conflitos externos e internos vão diminuindo a capacidade natural de autorregulação. E assim, o corpo desaprende como pulsar em ondas de contração e relaxamento. Se o corpo estiver contraído, tenso, a pessoa fica desconfortável dentro dele. Se estiver sem tônus também.

Acontece que, em geral, as pessoas vivem muito mais em estado de contração e de tensão e existe pouco espaço pro relaxamento.

Segundo Gerda, os conflitos e ansiedades produzem tensões internas que inibem a espontaneidade e resultam em uma tensão muscular crônica ou em uma flacidez muscular. Então, vão surgindo as doenças psicossomáticas, os quadros de estresse, sintomas diversos.

“Bio” significa vida, “dinâmica” significa força. Gerda Boyesen traz a compreensão do fluxo da libido no corpo. Sua teoria é que a força vital move-se em nós como libido, e que seu fluxo é naturalmente prazeroso.  Quando esse fluxo é bloqueado, causa sintomas tanto físicos quanto psicológicos. Ao reprimirmos nossas emoções, estamos bloqueando o fluxo da nossa libido, nossa força vital. Não temos consciência do que reprimimos: perdemos o contato com a força vital.

Resgatar a autorregulação é resgatar esse fluxo natural.

Enquanto Reich enfatizou a importância do orgasmo total na restauração do nosso equilíbrio interno, Gerda enfatiza os ritmos da força vital: como as pressões da vida podem ser descarregadas por meio da função do psicoperistaltismo (mecanismo natural do organismo de regulação e eliminação da tensão nervosa) e dessa forma, harmonizadas.

Quando temos essa capacidade de completar ciclos emocionais, a força vital pode fluir por nós em todos os níveis do nosso ser – psicológico, muscular e vegetativo – trazendo nutrição, força e satisfação. Na verdade, a visão Biodinâmica de saúde envolve um alto nível de vitalidade, prazer e autodeterminação.

As funções básicas da vida são a produção de energia através da respiração e do metabolismo e a descarga de energia no movimento. A quantidade de energia que um indivíduo tem disponível e como a usa determinam o modo como responde à situações da vida. Uma pessoa pode enfrentá-las de forma eficiente se tiver mais energia passível de ser livremente traduzida em movimento e expressão.

Os processos de energia no corpo estão relacionados ao estado de vitalidade do corpo, ou seja, ao estado de saúde do corpo.

Quanto mais vigorosa a pessoa está, mais energia tem e vice-versa. Rigidez ou tensão crônica diminuem a vitalidade da pessoa e rebaixam sua energia. Por outro lado, a falta de tônus permite que a energia vaze, escorra e não seja aproveitada. Das duas maneiras não há pulsação – há padrão.

Ao nascer o organismo está em seu estado de maior vitalidade e fluidez; ao morrer, a rigidez é total.

A rigidez da morte é inevitável, mas aquelas das tensões crônicas podemos cuidar sim.

Quanto mais estamos em contato com as correntes prazerosas dessa força dentro de nós mesmos, menos dependemos das coisas externas para sentirmo-nos bem (bem-estar independente); portanto, podemos ficar mais descontraídos em nossas relações com as outras pessoas e somos mais capazes de direcionar nossa vida no sentido de satisfazer nossa verdadeira natureza.

As pessoas saudáveis respondem livremente aos estímulos do mundo e também podem encontrar profunda alegria quando estão sozinhas.

Quando o ciclo emocional não se completa


Na verdade, muitos dos distúrbios que sofremos, com sintomas psicológicos como ansiedade crônica, ou com sintomas físicos como cefaleia, são essencialmente sintomas de pressão. Essa pressão surge quando a força vital não completa seu movimento pelos três níveis do ciclo emocional (psicológico, muscular e vegetativo), sendo interrompida em seu caminho, acumulando-se assim nos tecidos corporais.

Por outro lado, quando o fluxo é muito fraco, as pessoas sofrem de apatia, pesar, resignação e falta de assertividade.

Se o fluxo vital for bloqueado nas crianças, elas não desenvolverão seus recursos naturais por completo. Por exemplo, a criança que é punida com frequência por “querer tudo do seu jeito” pode não desenvolver sua capacidade de se posicionar na vida: suas tentativas de expressar suas preferências foram tão infrutíferas que ela desiste de tentar.

Em uma atmosfera de segurança e confiança, podemos - graças à força de cura inerente do ciclo emocional – recuperar-nos mesmo dos traumas fortes. Afinal, perdemos o contato consciente com nossa força vital mas ela não morre e tem um impulso intrínseco de vir à tona e ser reintegrada.  E quanto mais cedo esses traumas ocorrem na vida, mais devastador é para nosso desenvolvimento.

Assim, as sementes de muitos distúrbios psicológicos localizam-se nos padrões de experiência infantil e na atmosfera criada pelos pais – que são a primeira expressão da sociedade em que vivemos.

Crianças são cheias de vida, curiosas, exuberantes, barulhentas e quando frustradas – cheias de raiva. Quando os pais conseguem tolerar toda a vivacidade dos filhos, conseguem ouvi-los, responder à eles e dar-lhes uma estrutura de limites claros, essas crianças sentirão-se reconhecidas, aceitas.

Assim existe um equilíbrio adequado entre a vida interior e a exterior: apoio e desafio, espaço e segurança.

Formam-se crianças que sabem que tem o direito de ser quem são, aprenderão a conter a sua força vital sim, mas não serão sufocados por ela.

“Podemos ficar doentes simplesmente por reprimir a alegria”.

Se tudo que as crianças escutam é “fique sentado!”, “fique quieto!”, “depressa!”, “faça direito!”, começam a sentir que há alguma coisa “errada” com elas e podem até sentir-se culpadas por existirem. Assim, começam a sufocar seus impulsos, escondendo seus sentimentos: em termos biodinâmicos, interrompem o ciclo emocional e comprometem a Personalidade Primária (já falei dela por aqui, corre lá e dá uma olhada!).

Quanto mais velhos ficamos, mais os valores de nossa sociedade nos invadem - “homens não choram”, “mulheres não gritam”. Engolimos cada vez mais frustrações, absorvemos mais angústias, enquanto “fazemos cara de valente”: a cara da Personalidade Secundária.

Ao fazermos isso também distorcemos nosso funcionamento corporal. Se você não quer que ninguém saiba como você está entusiasmado, raivoso ou triste, não deixa nenhum som escapar, nem mesmo um suspiro. Assim, você mal respira. Ou, se não quer se aborrecer com os sentimentos que nascem em você, mal deixa o ar entrar nos pulmões. Dessa forma, perturbamos a reatividade natural do diafragma, nosso principal músculo da respiração.

Geralmente estamos mais conscientes de eventos externos (previsão do tempo, notícias, saldo bancário) do que da nossa própria realidade interna e das tensões vivenciadas em nosso corpo.

O corpo registra o stress muito antes da mente consciente. É inevitável deixar de tensionar o corpo quando estamos sob tensão. Porém, quando uma tensão torna-se crônica é retirada da consciência e realmente perdemos a percepção dela. Já falamos por aqui que as tensões musculares são a estrutura física das tensões psicológicas. Cada músculo contraído bloqueia um movimento e expressão do indivíduo, que restringe a capacidade de fluir dos potenciais.

Afinal, é com o corpo que nos experimentamos no mundo. Ou seja, perdemos a percepção da tensão e também do comportamento equivalente à ela. Ele se torna automático. Deixamos de ter escolhas: como quero lidar com essa emoção, com essa situação?

Na verdade, cada vez que não completamos o ciclo emocional permanece um traço de estresse em nós, nos níveis psicológico e corporal. A postura que repetitivamente distorcemos se enrijece em “couraça muscular”; os intestinos gradualmente perdem a reatividade às pressões sutis que devem ativar o psicoperistaltismo e dessa forma, desenvolve-se a “couraça visceral”.

Quanto mais encouraçados ficamos, menos podemos digerir as pressões da vida, Então, sofremos mais pressões e construímos mais couraças para resistir e elas rapidamente constituem-se os padrões de distúrbio.

O equilíbrio neurótico é reforçado pela sociedade.

A pressão vem de nós e do mundo exterior. Nossa cultura tem um foco na direção do resultado exterior e da racionalidade, “estar no topo do mundo”, “ser razoável em todas as coisas”, “não deixar o coração governar a cabeça”.

Ainda quando crianças, aprendemos a não prestar atenção às nossas sensações e experiências e sim estarmos atentos ao que queriam de nós – ao exterior. Abandonamos nossa verdadeira natureza, não reconhecendo ou respeitando nossos ritmos básicos, mesmo em necessidades simples como o repouso.

O superego nos dirige: cuidar de nós mesmos é sermos “autoindulgentes”. Muitas pessoas têm mais medo do prazer do que da dor, tendo uma crença de que “não merecem sentirem-se bem”.

Assim, perdemos nossa capacidade de autorregulação e nossos padrões de distúrbios tornam-se crônicos. Em nossos tecidos corporais ocorre um conflito entre o que nos tornamos (a Personalidade Secundária) e o que poderíamos verdadeiramente ser (a Personalidade Primária).

Ser saudável


Não é a saúde mental idealizada que proponho aqui, não é o estereótipo que traz alguém saudável como o indivíduo totalmente equilibrado, ponderado, que nunca fica nervoso, que não se sente pra baixo jamais, que não tem nenhuma explosão, que não tem momentos mais deprimido ou insatisfeito. Não se trata de não ter problemas, não ter altos e baixos.

A saúde que aqui me refiro diz respeito à capacidade de viver intensamente uma emoção, um momento, se envolver e depois poder “sair” para outro momento, relação, emoção, desta vez vivendo esta atual e não alguma outra que tenha passado.

Claro, que levamos sempre conosco para as novas situações, nossas marcas de experiências passadas, isto é importante porque aprendemos com o que experienciamos e vamos tomando mais consciência de nós mesmos. Mas, o que chamo de saudável aqui é esta capacidade de pulsar, de ir de um lugar para outro e vivenciar cada um, como aquele momento realmente é, com o que ele realmente proporciona.

Ter consciência do que é da relação presente, o que é da passada, sem ter que cindir, perder o contato, desestruturar.

Já disse Reich, em “Crianças do Futuro” onde fazia estudos sobre a prevenção de couraças em crianças num trabalho conjunto com os pais, que os ideais sobre felicidade “absoluta” e saúde “absoluta” devem ser abandonados. Saudável é ser capaz de livrar-se da infelicidade e da doença.

Para Alexander Lowen, da Bioenergética, a saúde é a ausência de um modo típico de comportamento.

Ou seja, ausência de um padrão. Suas habilidades são a espontaneidade e adaptabilidade às exigências racionais de uma situação. É um estado fluído em oposição à neurose, que é uma condição estruturada.

E só podemos ser espontâneos quando o nosso corpo pode expressar o que vem, sem se sentir amarrado, preso pelas couraças que impedem esse movimento. Só podemos ser espontâneos quando podemos pulsar, de acordo com a necessidade atual do nosso corpo.

Quando estamos conectados de verdade com a nossa realidade interna para perceber o que brota de lá naquele momento e quando estamos, ao mesmo tempo, conectados com a realidade externa. Somente aí é possível ter espontaneidade – com presença. Em seu livro “Medo da Vida”, Lowen nos diz que toda tensão crônica no corpo é um medo da vida, um medo de se soltar, um medo de ser. Por isso chamamos de defesa.

É necessário que tenhamos a capacidade de perceber o que precisamos e de poder expressar isso.

O que acontece conosco é que vamos nos enrijecendo tanto, ficando no mesmo padrão, sem poder pulsar, tendo sempre a mesma resposta, independentemente da situação, sem liberdade de escolha. Nos apavorando quando perdemos o controle, quando algo sai diferente, porque não sabemos lidar, só sabemos funcionar naquele “jeitinho” que muitas vezes não é funcional para nós e nem para o meio em que estamos vivendo.

A tendência é ficarmos vitimizados pelos nossos traumas e padrões. Todos nós estamos parados em algum lugar entre a total contração (que para Reich seria o câncer) e a total expansão (que seria a psicose). O saudável é poder contrair quando houver necessidade e depois voltar ao estado natural, poder então expandir, quando assim for, e depois retornar.

Na pessoa sadia, o irracional não é suprimido em favor da razão, ela aceita seus sentimentos, mesmo que eles sejam opostos à lógica aparente da situação. Isto não quer dizer não ter limites e se expressar a qualquer custo: a pessoa sadia que se sente irada ou excitada é capaz de conter seus sentimentos até que seja uma ocasião adequada para expressar-se.

Mas não os reprime.

Um novo tempo: um tempo de saúde


Acredito que estamos deixando para trás uma época em que estar estressado tornou-se algo natural, onde o indivíduo estressado era visto como o “produtivo”, que “não perde tempo”, bem adaptado ao pensamento instituído de que “tempo é dinheiro”.

As pessoas estão percebendo, hoje, que é preciso parar um pouco, respirar, se olhar, olhar para quem está caminhando ao seu lado. Buscar suas reais e vitais necessidades. Seus corpos estão reclamando o ônus que pagam. Sabemos que o stress em pequenas doses melhora o desempenho e aumenta a produtividade, estimula a realização, no entanto, quando é crônico pode ter efeitos devastadores para a saúde e o bem estar.

A ideia é de que tudo aquilo que não gera ansiedade, que nos faz bem, nos dá prazer, que temos vontade e não somos obrigados, pode ajudar na recuperação dessa autorregulação perdida em algum lugar da nossa história. Existem várias formas de fazê-lo, não há regras.

O “como” é uma busca individual, onde é necessário autopercepção para saber o que se precisa. A única forma é deixar-se livre para perceber-se. Dar-se tempo. Sem imposição de ter que fazer isto ou aquilo.

É preciso permitir-se, experimentar-se também, arriscar formas diferentes, abrir as portas dos sentidos para descobrir o que ajuda na sua autorregulação. Podemos começar tomando consciência:

  • “Quando estou muito pilhado, o que me ajuda a relaxar, a descansar o corpo e a mente?” – Um banho demorado? Malhar horrores na academia? Cantar bem alto e dançar a minha música favorita?”
  • “E quando eu estou caído, sem energia, pra baixo? O que me ajuda a levantar, a me conectar, a ter ânimo?”
  • “Qual é o extremo do qual mais me aproximo? Geralmente sou mais tenso, mais rígido? Ou minha tendência é ser mais mole?”
  • “Do que preciso?”

Quando a autorregulação é experimentada conscientemente, torna-se um momento especial de percepção, onde aguçamos nossos sentidos de forma natural e prazerosa.

O corpo se solta, descontrai, diminuindo também as tensões mentais. É este afrouxar que permite que a energia flua livremente sem entraves. Com este fluxo energético desbloqueado, o corpo permite que os potenciais se aflorem naturalmente, aumentando a capacidade produtiva e criativa de cada um. Um corpo relaxado é um corpo carregado de energia, pronto para agir quando necessário.

Mas não esqueçamos que relaxar envolve a capacidade de entrega, de perder o controle excessivo, do qual tem se feito tanta questão. E sair do padrão é sair do controle fictício que acreditamos que temos.

Na visão Biodinâmica, as funções da mente, corpo e espírito são totalmente fundidas entre si. Tudo que acontece em nós e em tudo o que fazemos – nossos calafrios, gritos, visões, ações, pensamentos e sentimentos – são manifestações da força vital se movendo em nós.

Resgatar a capacidade de pulsar espontaneamente com a vida é um objetivo da Psicoterapia Biodinâmica. E o primeiro passo para isso é restaurar a percepção de si através do próprio corpo.

Ajudar o paciente a se dar conta de sua postura rígida pode ser um bom começo. Para isso, um simples exercício de espelhar com o próprio corpo para que ele veja fora dele a sua postura pode ser muito significativo. Perceber que sensação lhe causa olhar alguém com aquela postura e daí partir para abrir caminhos para a sua história.

Outra proposta é pedir que ele, após perceber sua postura, exagere-a. Assim pode se conectar com o que ela provoca nele. Por exemplo, pode se dar conta que fica difícil enxergar lá adiante, que a respiração fica comprometida, que determinada parte do corpo tem que fazer muita força. Enfim, uma abertura para as percepções de si e das lembranças, sensações e sentimentos que estão implicadas naquele padrão postural.

Após se dar conta do padrão, podemos promover possibilidades dentro da própria sessão para que o paciente possa se experimentar, fazendo um movimento oposto ao da postura padrão e experimentando na segurança do setting terapêutico o que isso lhe causa.

A presença terapêutica que proporciona acolhimento e segurança é extremamente importante para que o paciente possa se arriscar, se experimentar e até se aceitar.

Após falarmos da capacidade de pulsar, me vem que o princípio básico de saúde emocional é algo tão simples e tão difícil de se conseguir: estar verdadeiramente presente.

Pois para isso é preciso estar em contato dentro e fora. Estar conectado consigo e com a situação daquele momento. É preciso se permitir pulsar. Só pode pulsar quem se conhece e se respeita, quem desenvolve uma segurança básica para lidar com a sua vulnerabilidade diante do novo que cada momento apresenta.

Fica aqui o convite de resgatar a nossa pulsação que ficou aí em algum lugar. Cada um do seu jeito, como pode, buscando se apoiar no que tem de mais saudável.

Autor Luciana Calazans

Luciana Calazans

@bemviveredesenvolver

Luciana Calazans quer compartilhar com você essa abordagem apaixonante que integra corpo e emoção e mostrar que é possível, sim, buscar e criar formas mais eficazes de ser e estar no mundo a partir da própria essência. Encantada pela capacidade humana de transformação e pela sua força vital, acredita no desenvolvimento do potencial latente no indivíduo ou grupo, pessoal ou profissional - no Desenvolvimento de Pessoas. É Psicóloga (CRP 06/85520), Psicoterapeuta Biodinâmica e Coach de Desenvolvimento de Mulheres.

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