Desvendando o Palográfico no Espaço

Ao adentrarmos o universo da psicologia, nos deparamos com inúmeras técnicas e abordagens que buscam entender os intricados labirintos da mente humana. Uma dessas técnicas, o Palográfico, vai além da simples análise das características gráficas na escrita. Esta abordagem mergulha fundo nos elementos que participam da construção dos aspectos multifacetados da personalidade. E, dentro deste contexto, um componente se destaca de maneira significativa: o simbolismo do espaço.

Mira, citado por Alves e Esteves em 2009, nos traz uma reflexão impactante sobre o assunto. Ele afirma que “o espaço psicológico não é neutro, mas sim dotado de sentido onde o movimento adquire uma função da relação entre o indivíduo e seu mundo. Estes movimentos, sejam eles conscientes ou inconscientes, carregam em si um profundo significado” (p. 17). 

O Espaço no Palográfico: Simbolismo e Implicações na Análise Psicológica


O espaço no qual um indivíduo se move e cria, não apenas reflete a relação com o meio circundante, mas também se entrelaça com a complexa teia de seu universo interior. Essa noção se torna primordial quando nos aprofundamos na análise qualitativa do Palográfico, sobretudo no que diz respeito à representação e importância do espaço.

Hughes (2001), conforme referenciado por Alves e Esteves (2009), evidencia que a atividade gráfica, englobando a escrita, se manifesta em planos distintos: horizontal e vertical. Observando o plano horizontal, é possível identificar três direções fundamentais: esquerda (ou passado), reta (presente) e direita (ou futuro). Esta configuração espacial reflete a maneira como o ser humano percebe, concebe e interage com o espaço ao seu redor em diferentes perspectivas temporais.

No plano vertical, delineiam-se três zonas distintas: superior, média e inferior. Max Pulver, reconhecido por Hughes como um pioneiro em estabelecer um simbolismo abrangente do espaço, visualizava a escrita como uma ponte - um “caminho que conduz do ‘Eu’ ao ‘Tu’”. Ele imaginava esse espaço como uma cruz, segmentando-o em quatro zonas: superior esquerda, superior direita, inferior esquerda e inferior direita.

A zona superior, como entidade, alude ao intelecto e ao domínio espiritual, enquanto também ressalta a expansão e a interação com o ambiente externo. O centro dessa configuração, onde o "eu" se posiciona, representa o ego. Contrastando, a zona inferior simboliza aspectos materiais, instintos e a área erótico-sexual. Além disso, o lado esquerdo é associado à autopercepção, ao passado e às fixações mais introvertidas, enquanto o lado direito expressa as relações com outros, o futuro e a extroversão.



Este simbolismo do espaço, intrinsecamente ligado à disposição dos palos na folha de aplicação, provoca reflexões pertinentes: Como o examinando se posiciona em sua escrita? Quais tendências predominam?

Tal análise espacial também é evidente em outros testes psicológicos, especialmente quando voltados ao público infantil. Um exemplo clássico é o teste HTP, onde a criança é solicitada a desenhar uma casa, uma árvore e pessoas. O posicionamento desses desenhos na folha torna-se material vital de análise.

A motivação para tais análises reside na biomecânica da escrita. Segundo Hughes (2001), os músculos flexores, responsáveis pelo deslocamento para a zona inferior, implicam em uma aproximação do corpo do examinando e estão associados a características como materialismo, irracionalidade e impulsos primitivos. Além disso, essa mesma zona remete à introspecção, insegurança e propensão à depressão, ancorada na realidade. Em contrapartida, o deslocamento para a zona superior sugere um viés mais voltado à fantasia.

Aprofundar-se nesse simbolismo não apenas amplia nossa compreensão da escrita e do espaço, mas também lança luz sobre a intricada relação entre o ser humano, sua mente e o universo que o cerca.

Análise Simbólica do Espaço: A Dança entre Cultura, Personalidade e Teorias Psicológicas


Na psicologia, percebemos que o espaço, em sua profundidade simbólica, não apenas reflete o mundo exterior, mas também tece uma narrativa sobre o complexo mundo interior de cada indivíduo. Este espaço, no qual a cultura se encontra com a personalidade e o dinamismo coexiste com a prática, desempenha um papel central na compreensão do ego.

Avançando nesse diálogo, Simón (1992) postula que o superego, um dos pilares da teoria psicanalítica, encontra sua representação no lado esquerdo do espaço, aludindo a simbolismos associados ao passado, à família e, de forma notável, à figura materna. A rica tapeçaria simbólica que emerge desse entendimento não é apenas uma singularidade da psicologia tradicional. Encontramos ecos dessa abordagem na teoria Junguiana sobre o simbolismo da mente. Essa teoria é frequentemente empregada em testes não exclusivamente psicológicos, como o DISC, ferramenta amplamente utilizada em treinamentos de coaching.

Ao longo da análise, seja quantitativa ou qualitativa, tais simbolismos são revisitados e examinados, sempre com o intuito de compreender a característica específica em avaliação. No entanto, é essencial possuir uma compreensão holística da análise simbólica do espaço. Ter essa visão panorâmica garante que a avaliação seja não apenas meticulosa, mas também profundamente enriquecedora.

Assim, ao aprofundar-se na simbologia do espaço, os profissionais são equipados com ferramentas e insights que enriquecem e ampliam a compreensão do ser humano em sua totalidade, interligando aspectos culturais, pessoais e teóricos.

Conclusão


Ao navegarmos na análise simbólica do espaço, somos levados a uma profunda compreensão das interseções entre personalidade, cultura e teorias psicológicas. A habilidade de visualizar e interpretar esses símbolos não apenas amplia nossa percepção do comportamento humano, mas também reforça a necessidade de uma abordagem holística em psicologia. Ao final, fica evidente que, para verdadeiramente entender o ser humano, devemos olhar além do óbvio, mergulhando nas profundezas do simbolismo que permeia o espaço em que ele se manifesta.

Autor Equipe Academia do Psicólogo

Equipe Academia do Psicólogo

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