Sobre o Positivo em Psicologia Positiva

De tempos em tempos quando alguém me pergunta com o que eu trabalho e respondo Psicologia Positiva, a pessoa pergunta, com um jeito sarcástico: "mas então existe Psicologia Negativa?".

Não, não existe, e por isso eu resolvi escrever este texto aqui para a Academia do Psicólogo, para tirar de vez essa dúvida!

Na verdade, se você quiser mergulhar nessa discussão, te indico ler as 26 páginas de dois artigos escritos por James Pawelski (2016) no Journal of Positive Psychology. Como bom filósofo que é, James se debruçou sobre essa temática e nos brindou com uma discussão riquíssima a esse respeito. Mas  se você preferir uma leitura rápida e direta ao ponto, preparei um resumo das principais ideias de Pawelski aqui:

1. Tenha em mente as abordagens diretas e indiretas para o positivo


Tanto a Psicologia tradicional quanto a Psicologia Positiva são positivas, mas elas são positivas de formas diferentes.

É muito fácil percebermos que obter mais daquilo que desejamos para o mundo e para nossa vida (boa educação, saúde, felicidade, etc) é algo positivo. E sem dúvidas, ajudar a as pessoas a construírem a vida que elas desejam, de acordo com suas potencialidades, é uma proposta da Psicologia Positiva, que é bem positiva.

Mas e sobre ter menos no mundo daquilo que não queremos (doenças, miséria, fome, etc...)? Isso também não é positivo?

A resposta é simples e bela: Sim!!!!!!!!!

Mas embora ambos exemplos sejam positivos, eles são diferentes de maneiras diferentes.

No primeiro caso, construir o que deseja, o positivo é obtido de maneira direta, enquanto no segundo, eliminar o que não deseja,  é algo positivo de maneira indireta.

Então, resumidamente podemos dizer que a Psicologia tradicional, que geralmente tem ênfase no tratamento da doença mental, é tão positiva quanto a psicologia positiva, que tem ênfase na construção de forças humanas.

Elas são simplesmente positivas de diferentes maneiras, ok?

2. Só porque algo é positivo não significa que seja ótimo.


No nosso dia a dia, há várias coisas que consideramos positivas como sair com os amigos, assistir nossas séries favoritas, tomar um sol em um dia frio.

Mas há outras que consideramos mais importantes, e que nos fazem até abrir mão dessas atividades, como por exemplo a educação de um filho que nos demanda tempo e atenção.

A questão aqui então é, apenas porque algo é positivo em si mesmo, não significa que seja um caminho para o florescimento.

E o objetivo maior da Psicologia Positiva é o florescimento.

Então quando falamos em "positivo" na PP, estamos falando, principalmente, daquilo que permite indivíduos, organizações e sociedades florescerem.

3. Às vezes o melhor caminho para o florescimento nos leva a processos negativos, nos motivando a escolher coisas que não escolheríamos por elas mesmas, mas que são importantes para os resultados que queremos.


Você considera que alguém te drogar e retirar uma parte de seu corpo é algo positivo? Não né... Na verdade, poderíamos descrever como bem negativo... sofrer um corte profundo, mexer lá dentro, retirar algo de si e depois costurar não costuma ser nada agradável.

Mas e se essa parte for um apêndice inflamado ou um dente que está causando uma série de outros problemas, e o procedimento estiver sendo realizado por um médico?

Ah sim, aí é bem positivo, correto?

Pois bem, essa mesma lógica também se aplica ao florescimento humano.

Às vezes para termos um resultado positivo precisamos passar por processos difíceis, dolorosos, ou "negativos".

Portanto, quem acha que a Psicologia Positiva não considera o negativo, o sofrimento e que é uma ditadura da felicidade, é porque não entendeu nada de PP ainda!

4. A Psicologia Positiva é uma proposta integrativa e não apenas complementar.


Muitas pessoas, até mesmo pessoas que seguem a Psicologia Positiva, a compreendem como uma abordagem complementar à abordagem tradicional. Nesse sentido, o positivo seria como um outro lado da moeda da Psicologia tradicional.

Mas na verdade a proposta é bem mais ampla que isso, é uma proposta de equilíbrio e integração.

Por fim Palwesky (2015) sugere um framework bem mais complexo para a compreensão do Positivo em Psicologia Positiva, mas por hora vou deixá-lo, querido leitor, com essa curiosidade, pois assim quem sabe você se anima e vai lá ler o texto completo?

Segue a referência:

PAWELSKI, James. Defining The Positive in Positive Psychology- Part I. The Journal of Positive Psychology, v11, n4, p 339-356, 2016

PAWELSKI, James. Defining The Positive in Positive Psychology- Part II. The Journal of Positive Psychology, v11, n4, p 357-365, 2016.

Boa Leitura!

Autor Renata Livramento

Renata Livramento

@renatalivramento

Renata Livramento é Psicóloga, Doutora em administração e Presidente do Instituto Brasileiro de Psicologia Positiva. Trabalha com desenvolvimento de pessoas no contexto clínico e organizacional. Coordenadora do curso de MBA em Psicologia Positiva e Desenvolvimento Humano da UNA, Professora universitária e palestrante. Apaixonada pelo ser humano em diversas facetas, cachorros e girafas.

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