Meu consultório está cheio, e agora?
"Alô?"
Você já sabe pela voz ao telefone que se trata de uma pessoa querendo atendimento clínico. Por sorte e muito esforço, você já atendeu vários telefonemas como esse antes.
Com o telefone no ouvido, enquanto procura um horário na sua agenda, você lembra do começo da carreira, em que pedia pra sua avó rezar para São Expedito para você conseguir paciente.
Você olha a agenda uma vez. Outra vez. Outra vez... E não acha brecha. Você não tem horário.
Aparentemente, meu caro colega, o sucesso chegou. Valeu, Santo Expedito!
Mas o que fazer agora?
O consultório cheio é só o começo.
Em começo de carreira, parece que ter o consultório cheio é o objetivo final, o chefão do videogame do sucesso profissional.
Mas não, o consultório cheio é só o começo.
Estar com os horários lotados é uma faca de dois gumes.
Ao mesmo tempo em que você passa a ter mais possibilidade de movimento, já que o dinheiro entra na conta com uma certa constância e os pacientes te procuram com frequência, também é natural se sentir estagnado.
Primeiro, porque agora seus horários estão todos ocupados. Depois de anos aceitando absolutamente qualquer horário que fosse sugerido, você percebe que não consegue mais se adaptar às sugestões dos outros.
Segundo, porque agora, como qualquer ser humano com uma necessidade satisfeita, surge a necessidade de fazer algo mais significativo.
E como manter o sucesso conquistado a tanto custo ao mesmo tempo que arranja tempo para semear novos projetos?
Parece tão óbvio, mas no meu caso foram anos até que eu sentasse e elaborasse uma agenda que ficasse confortável para mim, e só então, a partir dela, encaixar os horários dos pacientes.
Esse desconforto vai valer a pena
Mas agora, pelo menos em teoria, você pode - e precisa - dar esse não.
"Sinto, mas não posso te atender no sábado à tarde."
"Sinto, mas optei por não trabalhar no período da manhã."
Só quem já passou por perrengues financeiros sabe a culpa que bate quando você diz não a um cliente.
Parece até arrogância cobrar que o paciente se adapte à sua exigência e não o contrário, mas como em qualquer negociação... A vantagem é de quem precisa menos.
E, com a agenda cheia, você está em vantagem.
Você precisa confiar que os pacientes vão se adaptar à rotina que você impõe.
Acontece que é mais difícil convencer a si mesmo do que aos clientes de que você merece um valor mais alto por sessão.
A gente se sente meio fraude.
Não há dúvidas da sua competência na hora de ganhar 30 reais por hora no plano de saúde, mas duvida da sua capacidade na hora de cobrar 150 para um paciente particular.
Aí começa a busca por desculpas para não cobrar mais.
"Preciso melhorar minha decoração"
"Se a minha sala fosse num lugar mais nobre..."
"Quem sabe depois de mais uma especialização"
"Vou comprar uns bombonzinhos pra sala de espera e uma máquina de expresso, aí fica parecendo mais chique"
Enquanto isso, o dinheiro bate à sua porta e você sofre tentando equilibrar 50 pacientes a preço popular.
É impressionante como botar um pouquinho de banca se reflete num maior respeito para com o profissional.
Nunca conheci um colega que tenha se arrependido de reajustar o valor da sessão para cima.
Nunca vi um psicólogo falar que passou a ter menos pacientes depois de resolver atender apenas por indicação.
Ainda assim, se você for como eu, suas pernas vão chacoalhar feito gelatina na chuva quando falar para alguém te liga que você tem fila de espera.
Mas saboreie o momento!
Lembre-se do seu próximo plano (o livro, os vídeos, a viagem, a nova técnica, o curso) e lembre que dizer esse não é fundamental para abrir os caminhos para isso.
Esse desconforto vai valer a pena.
Mantenha o foco
Se você ainda não está com agenda cheia e acha que nunca vai dar certo, calma. Com boa estratégia e ética profissional dá pra chegar mais longe do que você pensa.
Se você já está... Não caia na tentação de permitir que isso seja fonte de culpa. Você batalhou muito para chegar aqui.
Apenas aproveite!
Mantenha o foco para manter o sucesso que veio a tanto custo e abra espaço para deixar a criatividade bem atiçada para que novos desafios - e novos sucessos! - cheguem até você.
Flávio Voight
@flaviovoight
Flávio Voight é psicólogo e escritor. Sócio-fundador da Oriente Psicólogos Associados, em Curitiba, atua com atendimento clínico e mentoria para profissionais que queiram ampliar sua presença nas redes sociais. Acredita que sensibilidade, leveza e bom humor são sempre o melhor caminho para tratar do ser humano - e para ser um também.
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