6 qualidades do técnico Tite que a psicologia do esporte explica

Acompanho o trabalho do técnico Tite desde sua campanha vitoriosa no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em 2002 e me surpreendo com sua trajetória. Os tempos gloriosos que estamos acompanhando em sua campanha na seleção brasileira de futebol exprime uma construção de anos e anos de seu trabalho.

A psicologia do esporte compreende este movimento como a fórmula de uma liderança que consegue rapidamente mostrar a importância do trabalho em uma seleção brasileira de futebol. Estávamos vivendo um inferno astral com conceitos ultrapassados para o futebol moderno que cada vez mais exige dos jogadores novas formas de mostrarem suas habilidades.

Muitas vezes observamos o técnico na beira do gramado comemorando fervorosamente a conquista de seus jogadores. Isto demonstra o quanto esta figura pode ser importante para aqueles que estão no campo de jogo.

Ser técnico é estar vulnerável ao saber que a vitória ou derrota de sua equipe passa diretamente por sua interferência. Entretanto, quando ele alcança as vitórias, isto pode lhe ser muito gratificante, recompensador e motivador para novas conquistas.

O futebol de hoje utiliza todas as suas capacidades de forma tecnológica, adaptada aos tempos modernos e que exige entendimento técnico, tático, físico e mental diferenciado devido a grande concorrência e equipes qualificadas. Somente um técnico com características tão atuais poderia reviver a vontade do brasileiro em torcer pela seleção brasileira.

Sendo assim, seu sucesso não é coincidência, é marca registrada. Por isto, mostro a vocês seis grandes qualidades do técnico e líder Tite que o credenciam na seleção brasileira. Na história deste técnico que constantemente bate recordes e continua a surpreender a grande mídia e torcedores do país inteiro, suas qualidades o caracterizam como um verdadeiro líder e mostram a força motriz de todas as suas equipes.

Veremos 6 destas qualidades aqui e ao final, falaremos sobre como a psicologia atua no desenvolvimento delas.

1- Integridade


A necessidade de ser íntegro nos dias atuais se mostra nos valores voltados principalmente para o que se está fazendo. As mudanças são diversas e manter um valor de equipe pode ser difícil caso as pessoas não compreendam o que estão realizando.

Por esta razão a filosofia de um líder deve ser clara e aceita por valores essenciais da instituição e as pessoas ao seu redor. Deve perdurar aos maiores desafios e permanecer propícia pelo tempo suficiente para a equipe obter o sucesso que almeja.

Tite já mostrou que erra muitas vezes e isto o torna humano. As pessoas entenderam que ele amadureceu ao longo do tempo. Ele leva em consideração todos os profissionais envolvidos com seu trabalho e muitas vezes toma suas decisões baseado no que eles relatam.

Decisões como não aproveitar alguns jovens e ser colocado como um técnico que não aproveita as categorias de base são uma demonstração de que seu trabalho não é bem visto em alguns setores do futebol, e isto é completamente aceitável para quem entende que ele continua aprendendo com os erros.

No último ano de sua passagem pelo Corinthians, revelou jogadores que permanecem na equipe até o momento.

2- Flexibilidade


Nosso mundo proporciona cada vez mais informações que se transformam em conhecimento. Caso o líder não acompanhe o ritmo atual de nossas vidas a possibilidade dele utilizar métodos ultrapassados é enorme. As tradições são feitas para serem questionadas e alteradas.

Se um líder realiza as atividades porque foi determinado que este era o único caminho, ele pode estar perdendo a chance de fazer melhor.

Esta qualidade foi adquirida após anos de experiência em diversos clubes e locais diferentes, além disto passou por algum tempo de reciclagem na saída da equipe do Corinthians em 2013.

O técnico precisou se modernizar e mesmo com conquistas importantes para a carreira como no Internacional de Porto Alegre em 2009 (Sulamericana), ele não deixou de se atualizar e entender que o futebol é dinâmico.

Tite comprova sua eficiência através de resultados além daqueles demonstrados nas quatro linhas. Seus jogadores mostram entender seu trabalho e a maneira exata como ele gostaria de ver em campo. Isto abre a possibilidade de uma constância de resultados e criatividade no modo de jogo, diferentemente do que pensamos a respeito de uma disciplina rígida dentro dos gramados que não deixa os jogadores exibirem o melhor deles no campo.

3- Lealdade


A lealdade mostra que não importa o que aconteça, estaremos sempre apoiando as decisões das pessoas de forma que haja o mínimo de julgamentos. Se um líder consegue unir a equipe, ele também poderá transmitir a intenção de que todos sejam leais uns com os outros, focando os trabalhos na equipe para o alcance de objetivos. Este líder terá a oportunidade de focar as pessoas à trabalharem de forma coesa.

Seu sistema de rodízio de jogadores que estavam se destacando é uma mostra clara desta qualidade. Os jogadores aceitavam sair da equipe de forma menos estressante, pois sabiam que a oportunidade retornaria desde que ele demonstrasse capacidade para tal.

No começo de seu trabalho com este tipo de estratégia, as pessoas desconheciam sua capacidade desta estratégia ser certeira, pois, na cultura do futebol brasileiro, os 11 titulares seriam os melhores do time.

De fato, em alguns momentos de sua carreira a insistência com alguns jogadores foi prejudicial a equipe, porém, em longo prazo ele ajudou a difundir esta cultura no futebol brasileiro e agora o faz na seleção brasileira.

4- Responsabilidade


As capacidades técnicas de como lidar com uma tarefa mostrarão que o líder tem segurança de fazer o que está se propondo a fazer. O líder deve assumir responsabilidades que estejam ao seu alcance e saber delegar as responsabilidades aqueles que possuem a capacidade de realizá-las.

As organizações são decorrentes de responsabilidades que as pessoas cumprem em seus papéis ou haveria total desorganização e falta de sentido no que estão realizando. Desta forma, um líder precisa demonstrar que está incumbido de realizar as tarefas de forma sincera.

O técnico Tite mostrou diversas vezes que esta responsabilidade deveria ser adequada aos jogadores. Ele já deu diversas entrevistas mostrando a importância da dedicação de seus atletas e aquele que não conseguia se adequar as qualificações que a equipe precisaria, era afastado de forma contundente, porém não punitiva.

Ele demonstrou que uma equipe deve vivenciar a importância do que faz e que  isto traria benefícios para todos.

Uma das frases mais emblemáticas a esse respeito foi dita por Tite ao tentar recuperar o futebol do jogador Adriano: “Se tem algo que me arrependo aqui no Corinthians, foi não ter conseguido recuperar o Adriano”.

5- Franqueza


Para que a palavra de um líder seja efetiva, ele terá de ser honesto e direto. A efetividade de suas palavras dependerá de como o interlocutor entenderá suas respostas e principalmente se ele aceitará ouvi-las naquele momento. Todavia, dá-se a oportunidade de superação para aqueles que estão indo por caminhos que não promovam seu bem-estar e também do grupo.

Ele nunca foi unanimidade em suas equipes.

O trabalho do técnico nunca foi essencialmente mecânico, pelo contrário, ele sabia que as emoções e relações interpessoais influenciavam diretamente no rendimento da equipe.  Manter um jogador que não estava alcançando este nível faria a maioria dos outros jogadores entenderem que o alto nível não valeria tanto a pena.

Porém, ao ser franco e direto sobre o que os jogadores deveriam melhorar, Tite mostrava também que todos apreciavam o resultado que aquilo lhes trazia em termos pessoais e esportivos.  Logo, a falta de unanimidade também é positiva.

Talvez haja um aspecto em seu trabalho que a mídia de maneira geral chama de muitos nomes, menos do que se trata: ele tem a capacidade de gerar motivação em seus jogadores e comissão técnica. Ele consegue conectar a verdadeira essência do que é estar em um grande clube ou uma seleção brasileira.

Esta é a maior conexão que ele desenvolve até o momento e que se alinham as ideias da psicologia esportiva para um técnico e líder.

A motivação neste ambiente futebolístico envolve o alcance de metas particulares, auxílio em seu plano de carreira, metas técnicas, táticas e de comportamento com duração de curto, médio e longo prazo todas em conjunto com os esportistas. É nítida a vontade dos jogadores em conquistar os campeonatos e treinadores que adotam este estilo de metas em seus trabalhos geralmente obtém ótimos resultados.

6- Preparação


O líder tenta prever as dificuldades advindas de suas tarefas. Desta forma ele se prepara para o momento difícil que pode estar chegando. Ele sabe que nem todos os momentos serão de vitórias e justamente por isto, considera situações mais improváveis e desagradáveis que possam vir ao fracasso da equipe.

Tite tem a capacidade de descobrir talentos em suas equipes, estudar de forma contundente as táticas dos seus adversários, aperfeiçoar a técnica de seus comandados e realizar treinos físicos e táticos de forma moderna e efetiva.

Ao mostrar esta qualidade, quem não se lembra das equipes montadas por ele no Sport Clube Corinthians Paulista? A primeira delas em 2011 era totalmente desacreditada, porém, ele extraiu o melhor de todos eles e conseguiu concluir seu intento em 2012 contra a equipe europeia do Chelsea que, em teoria, tinha mais capacidade tática e técnica que qualquer equipe brasileira.

Outra questão associada a esta qualidade é sua capacidade de dar feedbacks para que estes jogadores melhorem suas capacidades importantes para o jogo. Isto os ajuda a serem mais efetivos dentro de campo e seguir as táticas diferenciadas que o técnico precisa para mudar os jogos.

O grande mérito de Tite em seu trabalho é mediar este complexo campo para o alcance de resultados. Ele já declarou algumas vezes que o calendário brasileiro exige que a equipe mostre maiores esforços em determinada competição em algum momento. O que contradiz todo senso comum em dizer que uma equipe disputará todos os campeonatos com o mesmo afinco.

Ele nunca disse que havia desistido das competições, mas mostrou que os caminhos traçados eram realizáveis dependendo das circunstâncias reais que apareceriam e mostrou estar preparado para alcançá-las.

A psicologia do esporte também se aplica aos técnicos?


Evidentemente que estas qualidades que mencionei fazem parte de muitos técnicos no Brasil e no mundo e há um motivo para que eles se destaquem da multidão: são técnicos que levam as questões mentais a sério.

A participação da psicologia do esporte neste processo pode ser decisiva e até mesmo modificar a carreira de técnicos iniciantes ou aqueles que estão desenvolvendo suas carreiras há muitos anos e o elemento primordial nesta ponte é a comunicação.

A comunicação no ambiente esportivo é um diferencial em ambientes ostensivamente ligados ao físico.

Não se surpreenda quando você constatar que a maioria das pessoas que estão ali ainda não desenvolveram habilidades sociais importantes para lidar com as emoções, sentimentos e pensamentos tão importantes para a boa convivência. Equipes são desfeitas desta forma e a imagem do técnico acaba manchada por uma dificuldade em comunicar-se de forma eficaz.

Agir somente por intuição, sem conhecimento prévio das mudanças advindas do avanço da tecnologia, é praticamente agir no escuro. Uma leva de técnicos atuais sabe que as ciências do esporte fazem toda diferença no rendimento de seus jogadores e mais, isto já faz parte da atualidade de qualquer equipe de alto rendimento.

Por fim, os aspectos de gestão de um grupo esportivo fazem toda diferença ao longo da temporada. Todos ali exercem papéis importantes para uma equipe e este técnico deverá saber identificar a variáveis envolvidas (papéis, metas, queda de rendimento, melhora de rendimento, variação de papéis, talentos, rendimento).

Por esta razão, como psicólogos do esporte, podemos orientar estes técnicos em uma formação que os ensine cinco pilares fundamentais para uma boa gestão de pessoas: comunicação efetiva, personalidade, motivação, ativação ideal e dinâmicas de grupo.

O trabalho de base da psicologia esportiva remete ao técnico uma ampla gama de aspectos da personalidade, ansiedade pré-competitiva e motivação do atleta. Podemos demonstrar através de base científica que um atleta pode exibir uma performance totalmente diferente daquela demonstrada nos treinamentos a partir do seu estado mental.

Autor Eduardo Souza

Eduardo Souza

@eduardopsicologo

Psicólogo e Coach de Alta Performance da Seleção Brasileira de Parataewokondo (SBPTKD). Palestrante e idealizador de cursos e workshops pela Academia do Psicólogo. Psicólogo do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural através do Esporte (Karatê-Do e Taewokondo). Membro do Núcleo de Pesquisa do Instituto Olga Kos. Psicólogo e Coach da Differenza Serviços em Psicologia. Comentarista do Programa Rock Esporte pela Rádio Conectados Web Especializando em Docência das Ciências do Esporte pela Universidade Cândido Mendes.

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